São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MIS inicia mostra de cinema paulista

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mostra: O Cinema Cultural Paulista
Quando: de hoje a 18 de dezembro
Onde: MIS (av. Europa, 158)
Hoje: "Paraíso, Juarez" e "São Paulo, Sinfonia e Cacofonia", às 20h30
A mostra "O Cinema Cultural Paulista" começa hoje no MIS de São Paulo com uma atração no mínimo curiosa: a estréia do curta-metragem "São Paulo, Sinfonia e Cacofonia", primeiro filme dirigido pelo crítico e professor de cinema franco-brasileiro Jean Claude Bernardet.
Além de exibir os 53 curtas-metragens realizados em São Paulo em 1994, a mostra homenageia o cineasta, produtor e fotógrafo Thomaz Farkas, 70.
Atual presidente do conselho da Cinemateca Brasileira, Farkas produziu, entre 1964 e 1981, 31 documentários de curta e média metragens. Onze deles serão exibidos no auditório do MIS –e todos os 31 serão mostrados em vídeo numa sala menor.
Os documentários de Thomas Farkas –dirigidos por cineastas como Geraldo Sarno, Paulo Gil Soares, Eduardo Escorel e Maurice Capovilla, além do próprio Farkas– tratam invariavelmente de personagens sociais do interior do Brasil. Têm em geral um viés sociológico e crítico.
"Meu objetivo era realizar uns cem filmes pelo Brasil afora, dentro de um projeto chamado Condição Brasileira", diz Farkas. Segundo ele, os filmes, rodados em 16 mm, deveriam ser exibidos em escolas, como material pedagógico. "Mas na época os projetores eram caros e complicados, poucas escolas puderam passar."
Alguns desses filmes são hoje clássicos do gênero. "Memórias do Cangaço" (Paulo Gil Soares, 1965), por exemplo, mescla depoimentos de ex-cangaceiros e ex-soldados com imagens do bando de Lampião filmadas na época. O resultado é, ao mesmo tempo, emocionante e informativo.
"Viramundo" (Geraldo Sarno, 1964) mostra a experiência de migrantes nordestinos. "Subterrâneos do Futebol" (Maurice Capovilla, 1964), revela os bastidores político-econômicos do esporte.
O próprio Farkas assina alguns documentários sensíveis, como "Paraíso, Juarez" (1971), que abre a mostra, hoje à noite. Nele, o pintor popular Juarez Paraíso fala sobre os painéis que pintou para um cinema de Salvador.
Thomaz Farkas diz que os homens e problemas retratados pelos documentários que produziu "continuam os mesmos". "O que envelheceu, talvez, foi a linguagem. O cinema não tem que gravar entrevistas, tem que mostrar coisas. A entrevista você lê no jornal."
Durante a mostra, haverá no MIS uma exposição de fotos realizadas por Thomaz Farkas. Nascido na Hungria, Farkas veio com cinco anos para o Brasil. Herdou do pai a loja de fotografia Fotoptica, que dirige até hoje.
Filme de Bernardet
Um dos críticos mais importantes do cinema brasileiro nas últimas décadas, Jean Claude Bernardet estréia na direção com uma colagem de cenas de filmes realizados em São Paulo.
O fragmento mais antigo de "São Paulo, Sinfonia e Cacofonia" é do filme "O Segredo do Corcunda" (1925), de Alberto Traversa. "Mas a concentração maior de interesse é em produções realizadas entre os anos 50 e 80", diz o crítico-diretor, que só finalizou o filme ontem.
O filme de Bernardet faz parte de um projeto da Fapesp que gerou também "Cinemacidade", de Aloysio Raulino, programado para quinta-feira. (JGC)

Texto Anterior: Folha promove discussão sobre política cultural
Próximo Texto: Dionísio Azevedo foi pioneiro da televisão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.