São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
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'Disclosure' faz sucesso com tema sobre assédio

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O ano de 1994 anda tão mal em termos de qualidade artística em Hollywood que até uma bobagem bem feita, como "Disclosure", de Barry Levinson, é considerado grande candidato ao Oscar.
O filme estreou neste fim-de-semana com sucesso. Rendeu US$ 10,1 milhões e desbancou os concorrentes do topo da lista das maiores bilheterias dos EUA.
Baseada no best seller "Revelação", de Michael Crichton, a grande atração da fita é o tema do molestamento sexual com posição tradicional invertida: é a mulher poderosa que assedia o empregado em busca de favores sexuais.
Demi Moore é Meredith Johnson, fria executiva, que reencontra o ex-amante Tom Sanders (Michael Douglas) ao assumir a vice-presidência de uma firma de produtos high-tech em Seattle.
Meredith é nifomaníaca e ainda apaixonada por Sanders, seu novo gerente. Ela o convida para discutir negócios em sua sala, onde o espera com uma garrafa de vinho.
Em vez de fazer negócios, ela tenta forçar Sanders a fazer sexo. Primeiro, ele concorda. Depois, ao ver sua imagem num espelho perto do clímax, tem um ataque de bom-mocismo e sai correndo.
Furiosa por ter sido frustrada na hora H, Johnson ameaça destruir a carreira do ex-namorado na empresa. Ele resolve processá-la por molestamento sexual, e o filme vai em frente na batalha jurídica.
A coisa funciona mais ou menos bem em termos de diversão. Levinson é um bom diretor. Ganhou o Oscar de 1988 por "Rain Man" e fez outros trabalhos médios, como "Bom Dia Vietnã", "Bugsy" e "Avalon".
Tudo é de bom padrão: o script de Crichton e Paul Atanasio, a música de Ennio Morricone, o elenco –discreto, mas eficiente–, que conta também com Donald Sutherland e Dennis Miller.
A história flui bem, há situações engraçadas, algumas surpresas. Mas nada que provoque o espectador a pensar com um pouco mais de profundidade sobre as relações de poder e sexo numa empresa ou qualquer outro tema.
Até que poderia. O enredo é bom: o homem branco bem-sucedido nos negócios e no sexo é um ser que em geral não experimenta humilhações provocadas por características demográficas.
Ver-se de repente diante do vexame de ter que transar com a chefe é uma situação que, bem explorada, pode provocar muita especulação interessante. Não é isso que este filme faz.

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