São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 1994 |
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Com Serra, muda a política econômica
CLÓVIS ROSSI
Na prática, significa que se vai começar a trocar, devagar, a chamada âncora cambial pela âncora fiscal (ver quadro), o que atende a a apelos do empresariado industrial, sobretudo o de São Paulo. A indicação de Serra, aliás, começou a nascer em um encontro entre FHC e os empresários do Iedi (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial), realizado na terça-feira passada (dia 6). A tese exposta a FHC foi a de que a sobrevalorização do real em relação ao dólar, somada à abertura para importações, tem enorme eficácia para manter ou conquistar a estabilização da economia. Mas provoca, em contrapartida, sérios problemas para a indústria. Paulo Cunha (Grupo Ultra) usou a sua comparação favorita, a de que é preciso pensar também nas "formigas" (quem produz) e não só nas "cigarras" (uem consome). FHC parece ter comprado as teses. Na conversa que teve no domingo seguinte, em Miami, com a Folha, o presidente eleito fez a seguinte observação: não se pode integrar o país ao mundo ao risco de "desintegrar a indústria". Na entrevista, que será publicada domingo pelo caderno Mais!, FHC refere-se à necessidade de fortalecer o MIC (Ministério da Indústria e Comércio), tal como pediram os representantes do Iedi. Aí é que Serra começou a ser ministro do Planejamento. Os industriais desenharam o perfil ideal do novo titular do MIC: não deveria ser um empresário, mas deveria ser alguém "bilíngue". Tradução: alguém capaz de falar a linguagem da estabilização, mas também a da produção. O presidente eleito perguntou: "Que tal o Serra?". "É sopa no mel", responderam em coro os industriais. Em conversas reservadas, Serra não se cansa de fazer reparos à política cambial praticada pela equipe econômica. FHC pediu então que os empresários o ajudassem a convencer Serra a aceitar o MIC, já que o senador eleito achava que tal pasta tem limitações demais. Como Serra manteve a resistência ao MIC, a solução foi chamá-lo para o Planejamento. É claro que a indicação de Serra não significa que o real vá, de imediato, empatar com o dólar. Esse processo será gradual, sob pena de se priorizar a produção em detrimento da estabilização. Mas a ênfase passa para a política fiscal. Serra terá de comandar, agora, um enorme esforço de ajuste do Estado. A contrapartida da indústria será um esforço para aumentar a produção. É a outra maneira de evitar aumento de preços. Texto Anterior: Leitores da Folha já doaram dez toneladas para o 'Natal Sem Fome' Próximo Texto: O anti-Getúlio Índice |
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