São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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As havaianas e os calos

CARLOS SARLI

Não adianta. Surfar as ondas havaianas requer prática e habilidade.
Salvo raríssimas exceções, o primeiro contato com a força amplificada da natureza do lado norte da ilha de Oahu assusta.
Os surfistas brasileiros se dividem claramente em dois grupos; os "Extra-Large", aqueles que resolveram "ir pras cabeças" e encarar o desafio máximo da profissão; e os "Small-Medium", que definitivamente não gostam e preferem o cenário mais tranquilo dos palanques, fãs e ondas dos circuitos brasileiro e regionais.
Quem esteve nos últimos cinco ou seis invernos no Havaí deve se lembrar da figura humilde do paraibano Fabinho Gouveia, sentado na praia com expressão apreensiva, disfarçando a tensão e o total desconhecimento do inglês com seu brado nervoso "tui tuare tudere rari deis".
Fabinho insistiu: abriu mão de conforto, de momentos com os filhos pequenos, dos autógrafos.
Esticou suas temporadas no Havaí ao máximo.
Fez pranchas grandes e botou para baixo, mesmo tendo a humildade de dizer que não gostava de ondas grandes. Hoje, fluente no inglês, extremamente respeitado pelos colegas de profissão, mesmo ausente da maioria das festas e oba-obas, Gouveia deixou pra trás o fantasma dos caldos que levou em seu primeiro Pipe Masters e mostrou neste inverno intimidade absoluta com a onda mais nervosa e impiedosa do mundo: Pipeline. Seus drops não deixam dúvida, as viradas são cada dia mais intensas e Fabinho já começa a atrasar e manobrar para ficar mais fundo no tubo, este o sinal mais claro de que o medo ficou definitivamente arquivado numa fita de vídeo empoeirada.
Teco Padaratz é outro exemplo. Pegou muito este ano e não tem mais o "surfe bonitinho, porém inseguro", que trocou por manobras maduras e peso na rabeta da prancha. Renan Rocha é do time. Chega cedo e sai tarde da água, fica dois ou três meses encarando o que aparecer.
Tadeu Pereira não pode desanimar com os dois ou três caldos que tomou em sua bateria no dia grande do Pipe Masters deste ano. Sua evolução é nítida e mais um ou dois invernos vão lapidá-lo definitivamente. Paulinho do Tombo, Tinga, Peterson Rosa e seu brilhante e tirado irmão menor, Maicon, já têm carteirinha carimbada no clube dos "Extra-Large", que antes ficava restrito aos Eraldos e Burles.

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