São Paulo, sábado, 17 de dezembro de 1994
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Exército instala nova cruz em morro do Rio

SÉRGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O Exército recorreu a um helicóptero da Aeronáutica para instalar ontem no pico do morro do Borel (Tijuca, zona norte) uma cruz em substituição à que foi derrubada por militares na ocupação da favela, há 20 dias.
Construída em madeira de lei pintada com tinta branca, a cruz pesa 700 kg e mede 10 m de altura por 4,7 m de largura. Foi construída no 1º Batalhão de Engenharia de Combate do Exército, em Santa Cruz (zona oeste).
A instalação da cruz –acompanhada com exclusividade pela Folha– foi complicada. Presa por cordas e cabos de aço, a cruz viajou de Santa Cruz ao Borel do lado de fora de um helicóptero Super-Puma, que chegou ao morro às 11h30. O helicóptero demorou 30 minutos para encaixar a cruz no buraco de 2,5 m de profundidade aberto no pico por 30 militares.
Durante a ocupação do Borel, militares jogaram no abismo o cruzeiro colocado em 1979 por fiéis da paróquia de São Sebastião. A cruz, disseram os militares, era o símbolo dos traficantes de drogas da facção Comando Vermelho.
Coordenador da paróquia, o padre Olinto Pegoraro negou a informação militar e acusou o Exército de torturar favelados.
Pegoraro chegaria ontem à noite ao Rio, vindo de Salvador. Freiras da Congregação Missionária do Sagrado Coração de Jesus, moradoras da favela, disseram à Folha que não saudarão a nova cruz.
"O povo daqui se sentiu espiritualmente diminuído com a retirada da cruz, instalada com muito esforço e luta há 15 anos. Não faremos solenidade porque esta cruz não tem sentido para nós", disse a irmã Mariana Teixeira de Araújo.

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