São Paulo, segunda-feira, 19 de dezembro de 1994
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Cresce prisão de estrangeiros no AM

ANDRÉ LOZANO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O tráfico internacional de cocaína que passa pela região Norte do Brasil está atraindo estrangeiros, especialmente europeus, de classe média. Nos últimos dois anos, triplicou o número de estrangeiros presos na penitenciária de Manaus.
Em 1992, foram presos três estrangeiros, segundo dados do presídio. Este ano, até a semana passada, dez haviam sido presos.
O motivo desse crescimento é a alteração das rotas internacionais do tráfico, segundo identificou no início do ano a Superintendência da Polícia Federal do Amazonas.
Muitos traficantes passaram a usar Amazônia como um dos caminhos mais seguros para o embarque da droga produzida na Colômbia rumo à Europa e aos EUA.
No primeiro trimestre do ano, houve quatro prisões em flagrante de traficantes europeus que tentavam embarcar com cocaína no aeroporto de Manaus.
Eles compraram a droga no Cartel de Letícia (fronteira da Colômbia com o Brasil) e atravessaram a Amazônia para diminuir o custo da droga e não ficar na dependência de traficantes colombianos.
'Dinheiro fácil'
A Agência Folha entrevistou quatro presos estrangeiros. Três afirmaram que tinham emprego fixo em seus países e que arriscaram o tráfico de drogas porque lhes foi assegurado que receberiam "dinheiro fácil", sem riscos.
O espanhol Joaquim Marco Mendoza, 22, disse que além da expectativa do "dinheiro fácil", a prometida segurança do "negócio" tornou a ação atraente.
Mendoza disse que com os US$ 10 mil que receberia se chegasse com a droga a Madri compraria um carro –motivo que, segundo ele, o levou a deixar o emprego em um agência de viagens na capital espanhola onde ganhava US$ 1.200 mensais.
O italiano Fabrizio Orlandine, 50, preso na véspera do Natal do ano passado junto com Mendoza, afirmou que estava apenas "acompanhando" o jovem espanhol. Afirmou ser dono de uma empresa de decoração industrial em Roma.
Afirmou não saber que o espanhol levava 6,2 kg de cocaína escondidos em uma cabeça de Cristo, jacarés empalhados e vasos indígenas, entre outros objetos. Ambos foram condenados a quatro anos de prisão em regime fechado.
Para o norte-americano Clarence Moore, 44, o elevado preço pago pelo quilo da cocaína no Estado de Virgínia (EUA), onde morava, foi o principal atrativo.
Os presos estrangeiros são unânimes quanto a três reclamações da prisão: a comida (geralmente arroz e peixe), a superlotação das celas e o desprezo dos presos brasileiros em relação a eles.
Disseram, porém, que não sofreram agressões físicas ou sexuais na penitenciária. "O pior é estar preso em uma penitenciária de Terceiro Mundo", diz Orlandine.
A situação é pior para os estrangeiros recém-ingressos no presídio, pois sequer falam português, como é o caso de Davine Moore, 20, namorada de Clarence. Os mais antigos já falam um pouco da língua, como Orlandine.

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