São Paulo, quarta-feira, 21 de dezembro de 1994
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Contas do governo podem ameaçar o Real

LILIANA LAVORATTI; VIVALDO DE SOUSA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A equipe econômica do presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, terá três prioridades para resolver no primeiro semestre de 1995: renegociação das dívidas dos Estados e municípios, desindexação da economia e adoção de medidas para equilibrar as contas públicas.
As três tarefas são importantes para o sucesso do Plano Real e não dependem das reformas constitucionais, consideradas pela equipe econômica como próxima etapa da estabilização.
Na área econômica, as reformas estruturais envolvem mudanças no sistema tributário e previdenciário.
Enquanto essas reformas não forem feitas, o governo terá de fazer controle rígido dos gastos públicos para administrar o déficit potencial de R$ 10 bilhões previsto no Orçamento da União no próximo ano.
Além de perder os R$ 4,5 bilhões de receita do IPMF, que acaba este ano, estão faltando R$ 2 bilhões para implantar a segunda etapa da isonomia salarial dos servidores públicos.
Por enquanto, sabe-se que a equipe econômica planeja cobrir o rombo com o combate à sonegação e recursos da venda de estatais.
Salários e previdência
A desindexação da economia deve ser feita nos primeiros meses do próximo ano. A equipe de FHC queria eliminar a Ufir mensal e o IPC-r ainda no atual governo, mas o presidente Itamar Franco não quis assumir o ônus político de antecipar de julho para janeiro o fim da correção salarial automática.
O fim do reajuste automático dos salários pelo IPC-r deve ocorrer em janeiro. No caso da Ufir, o governo tem duas propostas: acabar com ela já em janeiro ou transformar a Ufir mensal em trimestral no primeiro semestre de 95 e em semestral na segunda metade do ano para extingui-la em 96.
A renegociação das dívidas dos Estados e municípios já está sendo feita. Uma das idéias é a federalização desses débitos, que soma hoje R$ 23,1 bilhões. A principal dificuldade é que os Estados e municípios teriam de se comprometer a não emitir títulos públicos até o ano 2000.
O futuro ministro da Fazenda, Pedro Malan, considera que é importante também sanear os bancos estaduais. Os novos governadores também terão de adequar a estrutura dos bancos estaduais, cortando pessoal, reduzindo agências.
A Folha apurou que a equipe econômica considera necessário encontrar uma solução política e não apenas técnica para o problema dos bancos estaduais e das dívidas dos Estados.
O apoio dos governadores é considerado importante para aprovar as reformas constitucionais.
O Ministério da Previdência Social é o que mais depende das reformas constitucionais para resolver seus problemas.
Hoje, a arrecadação das contribuições previdenciárias são suficientes apenas para o pagamento das aposentadorias e pensões, segundo o ministro Sérgio Cutolo. As despesas de pessoal já são pagas pelo Tesouro Nacional.
A concessão de aumentos reais (acima da inflação) para o salário mínimo, por exemplo, não pode ser feita sem as reformas, afirmou Cutolo. Hoje, o INSS (Instituto Nacional o Seguro Social) paga um salário mínimo a 11,2 milhões de aposentados e pensionistas.
Agricultura
Os problemas que o futuro ministro da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária terá de enfrentar já estão listados na pauta de uma reunião marcada para o próximo dia 11.
As lideranças do setor atuantes no Congresso e nas entidades de classe acertaram previamente o encontro com integrantes da equipe econômica que continuam no próximo governo.
As pendências vão desde a eliminação da TR como indexador dos contratos de financiamento agrícola até a elaboração de nova legislação antidumping para proteger os produtores nacionais da concorrência desleal com preços abaixo do custo praticados nas importações.
Também foi transferida para o próximo governo a conclusão das negociações da rolagem das dívidas vencidas de R$ 1 bilhão, assim como a indenização de R$ 765 milhões de perdas provocadas durante o Plano Collor 1.

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