São Paulo, quinta-feira, 22 de dezembro de 1994
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Dentro do possível

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique, depois de prometer muitos e muitos Jatenes, não escondeu a frustração ao anunciar os ministros impostos pela realidade.
Em pronunciamento ao vivo, disse, foi "a melhor equipe que pude juntar". Ameaçou corrigir-se dizendo, afirmativo, "é a melhor equipe", mas logo acrescentou, "que era possível".
Não adiantava esconder, que a verdade era gritante. Mas, pai e filho de um plano chamado Real, Fernando Henrique com certeza não está mais tão satisfeito com a realidade.
O presidente eleito também não ocultou que sofreu pressões demais, que o levaram ao tal governo "possível".
Ele buscou forças para ameaçar que os ministros, "se não forem capazes, serão substituídos". Mas logo deixou-se abater, dizendo, "eu espero não ter que passar de novo pelos exercícios pelos quais tive que passar".
Estava cansado, desanimado. Tanto que não conseguiu ser convincente, como foi em outras vezes, ao questionar as demandas clientelistas.
Esteve perto de desculpar-se, ao dizer "não pensei em regiões, pensei no Brasil". Noutro momento, pareceu fugir da realidade, dizendo, em devaneio, "a política regional deverá extinguir-se, até como conceito".
Noutro momento, deixou-se levar pelo ataque aos "políticos locais" e sua "pressão", de interesse pessoal e não da sociedade. Não deu nomes, mas falava aos próprios aliados, alguns deles tucanos.
Outros ainda, da televisão, como no texto da Globo que reclamou que "o Rio não fez nenhum ministro" e que "a maioria é de São Paulo". Um texto idêntico foi lido na CBN, que é da Globo.
A pressão das capitanias, uma velha realidade do Brasil, ecoou tanto no pronunciamento, que sobrou para Pelé.
Ele foi citado como "mineiro", para que ninguém saia dizendo que São Paulo levou mais um, o próprio rei.
Contra o rei
Por falar em Pelé, nada como o direito de transmissão no futebol.
Ao tratar do ministro, a Globo insinuou que o rei pode ter aceito o cargo porque assim deixa de ser processado pelo presidente da CBF.
O presidente da CBF, aliás, foi a única pessoa ouvida pela Globo sobre a nomeação. E foi para insinuar que Pelé só tem competência como jogador.

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