São Paulo, sábado, 24 de dezembro de 1994
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Noite de Natal é festejada na floresta e até no zoológico

ANDRÉ LOZANO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA

A noite de Natal na selva amazônica, no Jardim Zoológico de São Paulo e no ex-quilombo de Talhado (PB) não tem nada em comum com a comemoração da data na maioria dos lares brasileiros.
Na Paraíba, na comunidade negra de Talhado, a "eterna miséria" não diferencia esta noite de qualquer outra: até água para beber é difícil de encontrar. Em São Paulo, os funcionários do Jardim Zoológico que trabalham das 22h de hoje até as 6h de amanhã já estão acostumados com a ceia antecipada.
Índios, militares e ecoturistas estrangeiros festejam o Natal de forma original em São Gabriel (a 900 km de Manaus-AM).
Embora diferentes, os três grupos vivem próximos. Na cidade, ficam os militares, a maioria soldados vindos de outros Estados.
Na margem do rio Negro oposta à cidade, estão os povos indígenas, principalmente os macu, tucano, desano, brasano e tariano.
No meio do rio, paralela à tribo dos índios macus e à vila dos cabos e soldados, uma paradisíaca ilha abriga um hotel de selva, que nesta época do ano é frequentado por "bird watchers" (observadores de pássaros).
Os índios macus iniciaram os preparativos da ceia de Natal com uma semana de antecedência.
Os homens saíram todos os dias de manhã para caçar porcos selvagens, veados e macacos. Os macus não sabem muito bem qual o significado da data, mas querem comemorá-la porque é "uma grande festa dos brancos".
"Parece que é festa para comemorar o nascimento do Deus branco. A gente vai fazer um grande almoço", contou o líder macu Valdemar Araújo da Silva.
A dez minutos de barco da tribo, os norte-americanos Dale Birkenholz, Susan Russell, Jane Lyons e Joanne McIntyre se preocupavam menos com a ceia e mais com o propósito de acordar cedo para observar o maior número possível de pássaros.
"A comemoração do Natal se tornou chata. Está muito comercial. O melhor é se refugiar na selva e observar a natureza", afirmou Dale Birkenholz.
Para a maioria dos militares, em São Gabriel da Cachoeira, a data se torna um momento forte de saudade da família. Mesmo assim, alguns grupos tentam superar essas frustrações e realizarão uma ceia original: repleta de comidas regionais brasileiras. Cada militar levará um prato típico do seu Estado.
Mas a festa não tem o mesmo gosto para aqueles que não suportam mais o isolamento e as normas rígidas impostas pelo Exército.
"O Natal aqui não é uma festa fraterna. Mesmo no dia 24 tem aquela frescura de peito estufado, barriga pra dentro e queixo recolhido", disse o cabo Sérgio Henrique Dionísio, 26, que vai dar baixa do Exército em fevereiro para "retornar à civilização".

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