São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994
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'Esta cesta foi meu Papai Noel'

DA SUCURSAL DO RIO

Uma sacola branca de plástico, com alguns quilos de alimento, vai mudar uma rotina vivida há mais de dez noites de Natal na família da lavadeira Sidnéia Gomes de Oliveira, 39.
Há mais de dez anos Sidnéia não fazia ceia de Natal nem dava presente para os nove filhos e seis netos que moram com ela.
Este ano, a ceia e o presente chegaram juntos: Sidnéia ganhou uma cesta básica do Natal Sem Fome, distribuída pela campanha da Ação da Cidadania.
"Esta cesta foi meu Papai Noel e vale como presente para todo mundo. Já dá para fazer uma festa", diz.
Sua família recebeu três quilos de arroz, três de açúcar, dois de feijão, um de farinha, um de fubá, um pacote de macarrão e uma lata de óleo.
"Vai ter feijão, mãe, vai ter feijão?", perguntava Adriano, 5. A promessa da mãe era preparar feijão, arroz e macarrão, e fazer um mingau de fubá para os mais novos.
Na cozinha onde seria preparada a comida, uma das paredes caiu por causa da chuva. O banheiro também desabou.
Na mesa da ceia, mal cabem os pacotes com os alimentos da cesta básica. "Não faz mal, a gente se espalha por aqui, o que importa é ter jantar de Natal", diz Sidnéia.
Na comunidade Sapucaia, na Ilha do Governador, onde vive Sidnéia, 300 famílias receberam as cestas com mantimentos do Natal Sem Fome. Quase todas as famílias moram em barracos construídos à margem da Baía da Guanabara.
Peixe na ceia
Na casa vizinha, o pescador Edemezildo Carvalho, 57, preparava-se para buscar nas águas da Baía o peixe que iria complementar o jantar garantido na cesta.
Sua família recebeu um quilo de feijão, um de arroz, um de açúcar, um de farinha de trigo, dois pacotes de macarrão e uma lata de óleo.
Edemezildo Carvalho e a mulher, Maria Helena, criam seis filhos e dois netos. "Vou fazer macarrão, arroz e peixe. E feijão, se os meninos quiserem", animava-se Maria Helena.
Ela participa do comitê do bairro e ajudou a distribuir as cestas aos vizinhos. Preparou ainda a festa para todas as crianças da comunidade.
"É bom porque a gente ganha alimento e as crianças ganham brinquedo. E é bom também porque a gente ajuda. Fazia muito tempo que eu não tinha um Natal tão bom", afirma.

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