São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994
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O "crash" mexicano

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Mais uma vez o México coloca o mercado financeiro internacional diante de uma crise muito grave. O colapso de sua moeda, o peso, fez o nível de adrenalina dos operadores do mundo chegar a um ponto de quase colapso.
Em um ano terrível para investidores e intermediários financeiros, por conta da elevação dos juros americanos, o peru de Natal representado pela crise mexicana mostrou-se totalmente indigesto.
Verdadeiro "enfant gaté" do sistema financeiro internacional, parceiro insuspeito dos EUA no espaço comercial comum do Nafta, primeiro país da América Latina a fazer parte da OCDE, o México revelou-se na prática um grande embuste.
Os prejuízos, que ainda estão sendo contabilizados pelos investidores e especuladores internacionais, devem chegar a dezenas de bilhões de dólares.
As primeiras cifras sobre o dinheiro estrangeiro investido naquele país chegam a mais de US$ 180 bilhões. Incluídos investimentos diretos de empresas multinacionais, sob a forma de capital e de empréstimos de longo prazo, e dinheiro especulativo investido em títulos de crédito em pesos e ações de empresas mexicanas.
Outra face desta crise está representada pelo elevado volume de endividamento do governo e empresas mexicanas em dólares no exterior.
Se para os primeiros a desvalorização de quase 40% do peso representa uma redução violenta do valor em dólares de seus ativos no México, para os segundos o colapso da banda cambial é uma elevação do valor em pesos de suas dívidas.
O mercado cita o exemplo de uma empresa mexicana de cimento, que só este ano tomou mais de US$ 2 bilhões emprestados nos mercados internacionais de capital. De um dia para o outro, sua dívida em pesos cresceu o equivalente a quase US$ 800 milhões.
Da mesma forma, a vida do trabalhador mexicano levou uma bordoada. Apesar do acordo de congelamento de preços e salários para os próximos 60 dias, ninguém tem dúvida de que vai haver uma queda significativa do padrão de vida do povo mexicano.
E aí temos outro problema sério para o país. A estabilidade política do já tensionado sistema social mexicano.

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