São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994
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Mulher em casa dá mais dinheiro

DO "INDEPENDENT"

Há muito tempo as mães que trabalham fora de casa conhecem o efeito maléfico que os compromissos familiares têm sobre a perspectiva profissional. Agora, aparentemente, seus maridos e companheiros estão descobrindo a mesma coisa.
Uma pesquisa realizada nos EUA revelou que os homens casados com mulheres que ficam em casa ganham mais e são promovidos mais rápido do que os homens casados com mulheres que trabalham fora de casa.
Um estudo da Universidade Loyola, abrangendo 348 homens com cargos administrativos, revelou que durante mais de cinco anos os pais "tradicionais" receberam salários 20% mais altos do que os pais com mulheres que trabalham fora.
Outro estudo, da Universidade Pace, com 231 homens que adquiriram o título de mestre em administração no final dos anos 70, mostrou que aqueles cujas mulheres ficavam em casa ganhavam 25% a mais do que os casados com mulheres que exerciam uma profissão.
"Há evidências engraçadas", diz Anne Leeming, diretora de planejamento das City Business Schools. "Minha enteada de 27 anos, por exemplo, sem filhos e funcionária de uma grande corporação, fica intrigada com os homens que ficam olhando para o relógio e não podem fazer hora extra na empresa devido a tarefas domésticas."
Dianah Worman, conselheira política do Instituto de Administração de Pessoal, concorda. "Isso está de acordo com a pesquisa que fizemos sobre o impacto do divórcio, que tem um efeito desastroso na carreira profissional dos homens."
Considerando isso, não é difícil entender porque um homem com uma estrutura doméstica "tradicional" se dá melhor no trabalho.
Dianah Worman sugere que essa situação é resultado de uma escolha deliberada do casal. "A qualidade de vida é hoje muito mais cotada que o sucesso como prioridade um."
Foi isso o que aconteceu com Jeffrey, 42, gerente de marketing, casado com uma diretora de pessoal e pai de duas crianças (7 e 4 anos). Ele tem visto colegas mais novos ultrapassando-o no trabalho.
"Sei que há momentos em que perco pontos com os chefes porque tenho que chegar em casa cedo. Ou porque os compromissos familiares me impedem de deixar tudo para trás e pegar um avião. Mas faria as mesmas escolhas novamente."
O consultor administrativo Peter Rendall afirma que tem notado, nos últimos dois anos, que o número de homens e mulheres "'que dariam um olho" por uma promoção está diminuindo. "O status no trabalho não é mais a força impulsora que costumava ser."
O consultor financeiro Nigel Lovell acredita que seu casamento ficou mais forte desde que sua mulher, Alison, abandonou o emprego de relações públicas, antes do nascimento de seu filho. "Tínhamos vidas independentes e poucos pontos em comum."
Lovell acha que tem se saído melhor profissionalmente. "Em parte, porque minha mulher é uma tremenda vantagem para mim e para o meu trabalho. Ela é ótima nos contatos sociais e pode falar com meus chefes em termos de igualdade. Quando fui promovido, há dois anos, meu chefe chegou a dizer que eu devia agradecer a ela."
Alison, sua mulher, diz que não se sente excluída. "Contribuí para o sucesso de Peter. A empresa dele tem a nós dois pelo preço de um. Se eu tivesse trabalhando, teríamos progredido pouco."
Pat Harper, 30, e seu marido Peter, 30, decidiram há um ano que deveriam se concentrar exclusivamente na carreira dele como professor no sistema educacional independente. Pat era funcionária do escritório de advocacia de Bristol.
"Desisti de trabalhar em favor da carreira de Peter. Era um momento crítico, em que ele tinha que tomar uma decisão entre avançar e progredir ou simplesmente se acomodar."
"Quando o trabalho certo para ele apareceu, ficou claro que eu teria que percorrer diariamente 200 quilômetros. Eu gostava de advogar e trabalhei duro para obter a habilitação, mas nós dois resolvemos que, naquele momento, a carreira dele era mais importante", diz Pat.
"Minha geração está começando a querer uma vida melhor. Você pode passar 20 anos trabalhando duro, construindo um padrão de vida, ter vários carros, muito dinheiro. Mas não ter tempo para aproveitar a qualidade que ele pode trazer."
Tradução de GLADYS WIEZEL.

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