São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994
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Fenômeno estranho, paulistas perdem técnicos de sucesso

TELÊ SANTANA

É muito estranho o que aconteceu no futebol paulista este ano. Entre as quatro equipes finalistas do Campeonato Brasileiro, três eram paulistas. E justamente estas três perderam seus técnicos nestes dias.
O mais esquisito é que normalmente os técnicos saem devido aos insucessos. Esses três saíram apesar do sucesso.
O Guarani de Carlos Alberto Silva revelou bons jogadores e mostrou um jogo forte, apesar de a equipe ser jovem.
O Palmeiras de Wanderley Luxemburgo conquistou o título merecidamente.
O Corinthians de Jair Pereira, mesmo montando o time em cima da hora, contratou jogadores experientes e chegou à final.
Entretanto, logo após o campeonato, os três técnicos, três dos melhores do país, saem.
Desconheço detalhadamente os motivos que levaram os treinadores a deixarem as equipes, mas acredito que isso é muito prejudicial para os clubes.
Luxemburgo teve tempo de realizar um trabalho de médio prazo no Palmeiras e comprovou a importância da estabilidade para um técnico. Obteve quatro títulos importantes em pouco menos de dois anos.
Não entendo por que o Palmeiras não permitiu que ele tomasse conta das divisões inferiores do clube, seu desejo.
É importante para o time que as divisões de base trabalhem em concordância com a equipe profissional. Assim, os jogadores que sobem já sabem como a equipe principal joga. O treinador não tem dificuldades em adaptá-los ao time. No São Paulo eu oriento pessoalmente as divisões de base, cujos técnicos foram escolhidos por mim.
O problema do Jair Pereira parece ter sido o acerto financeiro. Isso pode ocorrer, mas uma equipe satisfeita com seu técnico deve fazer um esforço adicional para mantê-lo. Nada que uma conversa informal não possa resolver, cada um cedendo um pouco.
Além disso, a troca de técnico tem um custo e traz um risco para o clube. É preciso que o substituto se adapte, conheça jogadores e dirigentes. Isso leva tempo e pode não dar certo.
Costumo dizer que trocar de técnico é como uma cirurgia. Por mais seguro que possa parecer, sempre pode surgir alguma complicação.
Na Europa é comum o técnico ter tempo para desenvolver uma estratégia de médio e longo prazo. O Santos teve essa experiência com o Lula, que dirigiu e deu tranquilidade ao time por anos. No Brasil, infelizmente, duas derrotas seguidas já podem significar demissão.
Eu cheguei no São Paulo para ficar três meses e estou lá há quatro anos. Nesse período, o time mudou muito, perdeu cerca de 20 jogadores, mas conseguimos manter um padrão.

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