São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994 |
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Biólogos usam planta de 30 cm para desvendar genética vegetal
JOSÉ REIS
Nele classifica como "explosivo" o aumento de informação sobre essa plantinha –não mais de 30 cm do ápice à ponta da raiz– que leva alguns biólogos a chamá-la de drosófila vegetal. Drosófila é a conhecida mosquinha das frutas tão usada nos estudos genéticos. A planta, de fato, também está se transformando em modelo para pesquisas sobre temas básicos da bioquímica e da genética na biologia vegetal. A Arabidopsis mostra-se particularmente valiosa na identificação dos genes que controlam as complexas vias de crescimento e desenvolvimento das plantas. Só num fascículo da revista "Science" apareceram dois artigos (258, p. 1645 e 1647) sobre mutantes dessa espécie. Entre os genes de um vegetal podemos distinguir dois tipos. Uns controlam características isoladas, como resistência a várias condições, assim como a produção de proteínas (por exemplo enzimas) e outras substâncias que intervêm nas operações cotidianas que mantêm viva a planta. Outros regulam os grandes processos de crescimento e desenvolvimento, coordenando a ação de muitos outros genes. O estudo dos genes reguladores nos vegetais tem sido muito difícil, o que certamente causa transtornos porque eles funcionam como verdadeiros comutadores que ligam e desligam a ação de muitos outros genes responsáveis pelo desenvolvimento em geral. A Arabidopsis tem muitas vantagens para o biologista vegetal. Seu pequeno tamanho permite manter no laboratório dezenas de milhares de espécimes. Seu rápido crescimento (no máximo seis semanas da semente à maturidade plena) facilita as pesquisas de modificações em pouco tempo. Sua grande capacidade proliferativa garante a obtenção de milhares de sementes. Seu genoma (total dos genes) é pequeno. Pode ainda a planta servir de modelo para a solução de numerosas questões de biologia vegetal. Problemas Para exemplificar um dos tipos de problema que a planta pode ajudar a resolver, podemos citar os genes recentemente identificados por Gerd Jrgens, da Universidade de Munique, Alemanha. Esses genes dirigem a organização do embrião da planta, projetando seus eixos longitudinal e transversal, semelhante ao que ocorre no embrião da drosófila. Estabelecido o plano embrionário, entram em ação outros genes reguladores que controlam o desenvolvimento de várias partes da planta. A imperfeição notada, por exemplo, numa flor pode estar ligada a defeito no gene regulador geral, o que envolve uma série de operações, em várias gerações, cuja realização demoraria muito tempo em plantas comuns, mas que se resolvem facilmente em Arabidopsis. Nesses estudos destaca-se a semelhança entre as operações realizadas em drosófila e em Arabidopsis. Em contraposição, existem também diferenças quanto ao comportamento dos genes reguladores nos dois organismos. Texto Anterior: "Cadáver" celular tem marcas distintas Próximo Texto: Qual é a origem da gagueira? Índice |
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