São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994![]() |
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Paz e prosperidade
PAULO EVARISTO ARNS
São 1994 anos no calendário cristão a nos relembrar esse mistério tão caro aos que têm fé e esperança no coração. E a aquecer o coração dos homens e mulheres que têm boa vontade e buscam a paz e a verdade. Em contrapartida, nestes tempos de tanta violência, exclusão e miséria, todos buscamos referenciais de paz para a nossa vida. Muitos se perguntam se é esta pessoa, Jesus Cristo, e a fé em sua proposta que de fato podem dar sentido e novidade às nossas vidas. Nós cremos, firmemente, que sim. E por quê? Em primeiro lugar, porque podemos dizer que esse nascimento é um grande presente de Deus para toda a humanidade dividida em contínuas discórdias e guerras. Quem nasce para nós é o Príncipe da Paz, como o predissera o profeta Isaías. Em segundo lugar, porque sabemos pela experiência cotidiana que aqueles que nele acreditaram e que o seguiram, como Francisco de Assis, como Santo Agostinho, como o querido papa João 23, mudaram a história da humanidade, dando novo sabor ao viver e novo sentido à existência. Todos os seguidores de Jesus Cristo sabem que o filho que nasceu do seio da Virgem Maria é o próprio Senhor do Universo e a própria vida verdadeira para todos. E transmitem isso com sua vida e sua esperança em milhões de comunidades vivas nos quatro cantos deste planeta. Em terceiro lugar, porque aprendemos com Jesus, este pequeno e querido Menino Jesus, que na fragilidade humana já vemos a semente do Verbo de Deus, o divino que nos transcende e plenifica. Vemos nesse Menino Jesus que não somos destinados nem à morte eterna nem ao sofrimento, mas nosso futuro é de vida e de comunhão com o pai e o espírito santificador. Nós sabemos por revelação que quem nasce é o filho unigênito, por quem todas as coisas foram criadas e que ao assumir nossa humanidade transfigurou-a e destinou-a para o amor, para a beleza e para a comunhão. Meus queridos amigos, este grande mistério cristão celebrado no Natal só tem sentido em nossa existência quando compreendermos que ele mexe com nossa vida e o nosso viver. Quando testemunharmos, em nossos atos e palavras, vida e amor para os outros. Quando lutarmos contra a morte e seus mecanismos de dominação e exclusão, em favor dos pobres e de toda as crianças. Deus veio dizer, e até mesmo gritar e proclamar que ele, o onipotente, quis ser frágil como nós. Quis assumir nossas dores e nossos amores para nos salvar. Assim, isento do pecado porque repleto do amor, Jesus veio nos chamar para vivermos a festa do céu e para construirmos a justiça na terra. Veio oferecer de graça sua vida e seu coração para nos salvar de nossas mesquinharias e ódios interiores e estruturais. Veio mostrar o caminho da libertação para cada povo e para cada pessoa. Um caminho que começa sempre com uma criança, num desprezado e pequenino casebre pobre da periferia urbana, chamando pastores, anjos, magos, animais e até estrelas do firmamento, para esta festa que aqui começa e que só termina no céu, nos braços do nosso querido pai que é Deus. Feliz Natal para o Brasil, que promete a todos o fim da violência, da corrupção e da injustiça social. A paz anunciada por anjos, em nosso Natal, há de estancar a própria fonte do medo e garantir as condições para o novo tempo de cidadania e fraternidade. O mundo inteiro pode reencontrar os caminhos do entendimento, porque a religião une os homens entre si e com Deus, através da vida e das crianças, representadas no presépio de Belém. Entre nós, cada leitor se fará hoje mensageiro da esperança que nasce ao brilho da estrela e de nossa veneração constante! Feliz Natal, seguido da prosperidade para todos a partir de 1995. D. PAULO EVARISTO ARNS, 71, é cardeal-arcebispo de São Paulo e grão-chanceler da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Próximo Texto: A cidadania faz história Índice |
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