São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O pêndulo de Itamar

Nem o mais otimista poderia prever que o ano fosse sorrir tanto para o presidente Itamar Franco. Antes solitário no palácio, cercado de ceticismo e ironia, o presidente deu a volta por cima. Após o sucesso do Real, Itamar encerra o mandato no auge da popularidade, no comando de uma pacífica transição presidencial a que assiste de mãos dadas com a namorada June Drummond
Faces da moeda
O jeito tímido porém explosivo de Itamar Franco jamais faria crer que sua passagem pelo Planalto –iniciada em condições dramáticas após a saída de Fernando Collor em setembro de 92– pudesse ser tão vitoriosa. O programa do carro popular, que começou sob a marca nostálgica do superado fusquinha, é um sucesso. A complexa intervenção militar no Rio, apesar das preocupações com violações a direitos civis, é festejada. Inadvertido, Itamar acabou tomando uma decisão-chave ao permitir a execução de um programa de estabilização cujas idéias privatizantes contrariam suas convicções. No último ano de governo, a inflação caiu e a economia cresceu. A popularidade presidencial foi catapultada para níveis inéditos em fim de governo (à esq.). Seu ex-ministro FHC foi eleito com larga margem no primeiro turno. Os livros de história vão dizer que um presidente fez o sucessor. Mas há quem diga que este é o caso de um sucessor que fez o presidente.
Calcinha!
Nunca uma calcinha –ou a ausência dela– foi tão comentada quanto no Carnaval de 94. Em 14 de fevereiro, a dublê de modelo e atriz Lílian Ramos, 27, conseguiu seus 15 minutos de fama ao ser fotografada toda pimpona ao lado do presidente Itamar Franco, 63 –sem nada lá. Inadvertido, Itamar se derretia todo por ela. Junto ao presidente, o então ministro da Justiça Maurício Corrêa cambaleava com um copo de uísque na mão e, literalmente, sentava numa melancia.
Um Exocet!
A crise desencadeada no Sambódromo repercutiu como a explosão de um torpedo junto à cúpula das Forças Armadas. Descontentes com a conduta de Maurício Corrêa, militares ameaçaram insubordinar-se e exigiram a cabeça do ministro. Inadvertido, Itamar soube por seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, da gravidade da crise. O presidente acabou tendo que demitir o amigo, que foi, afinal, indicado para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal.
Collor inocentado
Por falta de provas, o Supremo Tribunal Federal absolveu o ex-presidente Fernando Collor de Mello da acusação de corrupção passiva, em 12 de dezembro. Paulo César Farias, ex-tesoureiro de Collor, não teve a mesma sorte: apesar de inocentado da acusação de corrupção passiva, foi condenado a sete anos de prisão –em regime semi-aberto– por falsidade ideológica. Afastado da Presidência, Collor continua inelegível até o ano 2000 por falta de decoro no exercício do cargo.
Gráfica de Lucena
Cassado após ter utilizado a gráfica do Senado na impressão de 130 mil calendários para distribuir a eleitores, o senador Humberto Lucena (PMDB-PB) foi anistiado em dezembro pelo Senado e pela Câmara. O perdão abre precedente para que outros 536 parlamentares –que também usaram a gráfica– não possam ser incriminados pela mesma razão. A "tropa de choque" de Collor gostou da idéia: eles querem fazer um projeto parecido para livrar o ex-presidente da perda dos direitos políticos.
Me Itamar, you June
O ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, é o cupido-mor do governo Itamar. Foi na casa dele, durante um jantar no final de outubro, que o presidente Itamar conheceu sua namorada intelectual, a pedagoga mineira June Mara Fagundes Drummond, 31. Os dois tentaram negar o affair, mas Itamar se declarou apaixonado em 21 de novembro e até renovou o look: trocou de óculos e de penteado. Agora, quer casar.

Texto Anterior: REI POSTO
Próximo Texto: Ziriguidum; 3
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.