São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 1994
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O Brasil caiu no real

Dos sete planos editados nos últimos oito anos, o Real foi o primeiro sem choques, pacotes ou quebra de contratos. A morte do cruzeiro real foi anunciada com 52 dias de antecedência. Embora a estabilidade dependa ainda de reformas estruturais, a inflação caiu e o astral do país subiu
Força estranha
Pendurado no volume recorde de reservas internacionais do país, o real surgiu cotado a um dólar. O inesperado ocorreu: a moeda brasileira se valorizou até estabilizar-se num patamar superior ao da americana, equivalente a cerca de R$ 0,85. O equilíbrio é instável: sem mudanças constitucionais, prevêem os economistas, o déficit nas contas do governo explode já em 95. Aí, bye bye real: a inflação volta com toda a força.
Tem troco, moço?
Os pais do real pensaram, pensaram, mas na hora H, esqueceram de dar o troco. No dia seguinte à edição do plano, o consumidor saiu às ruas preparado para a convivência com a nova e a velha moeda. A mudança obrigou muitos a sair às compras com a parafernália de máquinas de calcular e tabelas de conversão. O pior é que simplesmente não havia moedinhas de real no comércio. O troco miúdo, subitamente valorizado, só foi aparecendo aos poucos, um mês depois.
Na loja com real
O brasileiro foi às compras. A redução da inflação deixou mais dinheiro, moeda forte, nas mãos dos consumidores de baixa renda. Antes do plano, sem condições de se defender em aplicações nos bancos, os "sem-conta" assistiam seu dinheiro esfarelar-se ao longo do mês. Resultado: no primeiro trimestre do Real, a atividade econômica cresceu 8%, as vendas da indústria subiram 12,1% e as vendas do varejo se elevaram em 14,9%, índices que o país não via desde 1980.
Arma estrangeira
O arma do Real são os importados. Para restringir aumentos de preços internos, o governo reduziu, de 20% para 14%, as alíquotas de imposto da maioria dos importados. Carros estrangeiros tiveram o imposto reduzido de 35% para 25%. No caso dos populares, o governo ameaça baixar a alíquota de 8% para 0,01%.
Juros no céu
Com medo de explosão de consumo, o governo elevou os juros como nunca, através de recolhimentos compulsórios que encarecem o dinheiro, para o consumidor, a uma taxa de até 280% reais ao ano –recorde mundial. Somando os compulsórios que criou, o governo juntou em seus cofres R$ 41,9 bi, o equivalente ao faturamento anual da indústria automobilística.

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