São Paulo, quarta-feira, 28 de dezembro de 1994
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Usuários da Internet têm códigos próprios

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Os "newbies" estão quebrando a cara. Na convivência com os outros "netizens", correm o sério risco de tomarem queimadas por causa de sua ignorância. O jeito é começar surfando na rede, dando uma de "lurker", até que a experiência faça de você um infonauta de verdade.
Se o parágrafo acima é impenetrável para o leitor, dá uma idéia do que estamos sentindo todos nós que somos apenas curiosos pelo mundo da informática.
O texto quer dizer que os novos usuários da Internet estão agindo com cautela ao frequentar a rede, com medo de enfurecer os veteranos, por enquanto assistindo muito mais do que participando dos debates on line.
As palavras foram recolhidas aqui e ali na imprensa americana. "Newbie" quer dizer calouro, novato no mundo da Internet. "Netizen" é o cidadão da rede (Net), também chamado de "webster" (web quer dizer teia), infonauta ou "cibercitizen". "Lurker" é o cara que frequenta a rede sem participar, apenas assistindo aos debates e troca de informações entre os outros usuários.
A maioria das palavras ainda não tem nem tradução para o português. Pudera, nem mesmo o americano classe média consegue acompanhar a multiplicação do vocabulário.
O fenômeno pode ser constatado em qualquer jornal ou revista: as palavras são criadas pra explicar novas tecnologias ou comportamentos, frequentam as publicações especializadas e acabam pulando para o dia-a-dia.
"To flame", que é chamuscar, é empregado no sentido de "queimar" alguém que não sabe se comportar direito nas redes. Normalmente é uma mensagem em letras maiúsculas que visa escorraçar quem atrapalha o andamento das conversas on line. Nas ruas de Nova York os adolescentes já andam usando o verbo para demonstrar desprezo por colegas.
Para a garotada mais nova que já lida com computador, o verbo entrar deixou de significar um ato que envolve deslocamento físico; na esteira da tecla "enter", presente em todo computador, eles passaram a usar a palavra para descrever qualquer mudança de estágio nos jogos, brincadeiras ou a chegada de alguém. Tipo "sujou, mamãe deu um enter".
O surgimento do jato deu na palavra "jetlag", o cansaço físico que dá na gente quando muda de fuso horário. A popularização da Internet resultou em "netlag", que é o espaço de tempo entre o teclar de uma mensagem e o recebimento de uma resposta.
Há palavras bastante simples, como "sig", abreviatura de signature, ou assinatura, que é como as pessoas se identificam na rede. Todo usuário tem um endereço pelo qual se identifica, o que facilita a troca de correspondência eletrônica.
Quem quer mandar uma mensagem para o vice-presidente americano Al Gore, um fã da Internet, deve endereçá-la para vice.president whitehouse.gov. É a "sig" de Gore.
Outras palavras ou frases surgem para descrever inovações ligadas à Internet. O "kink net", por exemplo, foi o nome dado aos boletins eletrônicos que se reuniram para oferecer aos usuários fotos e informações pornográficas. De acordo com o último levantamento, a coleção incluía 917 mil imagens e era recordista em consultas.
Se não bastassem as novas palavras, o mundo da Internet já desenvolveu seu próprio código de gírias, nas quais as letras são substituídas por sinais. Elas ajudam você a interpretar melhor o sentido das mensagens. A presença de um :-) indica que quem escreveu está brincando ou sendo irônico; ;-) é o equivalente a um sorriso com piscadela, típico de um flerte. Mas se você receber um :-(, se toca, que seu interlocutor não gostou nada daquilo que você acabou de teclar.

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