São Paulo, sábado, 31 de dezembro de 1994
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FHC administra conflitos de última hora na equipe

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO; GABRIELA WOLTHERS; EUMANO SILVA; ADELSON BARBOSA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

GABRIELA WOLTHERS
O presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, inicia seu mandato amanhã forçado a administrar conflitos em sua equipe. O motivo é a sobreposição de funções causada pela reforma administrativa que ele próprio desenhou.
Ontem, depois de diversas tentativas, FHC conseguiu convencer o embaixador Sérgio Amaral a aceitar o cargo de porta-voz da Presidência da República.
Ele havia recusado a função por considerar que a criação da Secretaria Nacional de Comunicação Social, chefiada por Roberto Muylaert, havia esvaziado o cargo.
Só aceitou a missão após FHC ter garantido que ele permanecerá no cargo por pouco tempo. Só até a Secretaria de Comércio Exterior, subordinada ao Ministério da Indústria e Comércio, ser criada.
Mas o maior foco de atritos do futuro governo ocorre entre o futuro secretário de Políticas e Desenvolvimento Regionais, Cícero Lucena (PMDB), o futuro ministro do Planejamento, José Serra (PSDB), e o futuro ministro do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Gustavo Krause (PFL).
A rede de intrigas alcançou também o futuro secretário de Reforma Administrativa, Luiz Carlos Bresser Pereira e o futuro chefe do Gabinete Civil, Clóvis Carvalho.
Cícero e Krause disputam o controle do programa de águas do governo –área de maior atrativo eleitoral da região Nordeste.
Krause ganhou os dois principais órgãos do setor –o Dnocs (Departamento Nacional de Obras contra as Secas) e o Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale São Francisco).
Para compensar, o PMDB pleiteou a coordenação da obra de transposição das águas do São Francisco. Segundo Cícero, FHC se comprometeu a atender.
O PFL alega que não está nada decidido e que, pela lógica, a pasta do Meio Ambiente e Recursos Hídricos deve tocar o projeto. A obra não consta do Orçamento de 1995, mas os partidos acreditam em financiamentos internacionais.
O PMDB só aceitou a secretaria com a promessa de que ela seria subordinada diretamente à Presidência. Mas Serra entrou na disputa e conseguiu que o órgão ficasse subordinado ao Planejamento.
Ontem, o senador eleito Ronaldo Cunha Lima (PMDB-PB), dava nova versão. Segundo ele, haverá duas secretarias para Cícero:a de Políticas Regionais, ligada à Presidência; e a de Desenvolvimento Regional, ao Planejamento.
Já Clóvis Carvalho e Bresser Pereira disputam a condução da reforma administrativa. Para que Bresser aceitasse chefiar a Secretaria de Administração Federal, FHC a fortaleceu, tornando-a responsável pela reforma do Estado.
Mas será Carvalho quem terá o poder de gerenciar e fiscalizar as ações dos ministérios –inclusive quanto às reformas necessárias.

Colaboraram EUMANO SILVA, da Sucursal de Brasília, e ADELSON BARBOSA, da Agência Folha em João Pessoa

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