São Paulo, sábado, 31 de dezembro de 1994
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Ataque a clínicas mata 2 nos EUA

CARLO EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Duas clínicas em que se pratica aborto foram atacadas ontem em Brookline, na área metropolitana de Boston, Costa Leste dos EUA. Duas mulheres morreram e pelo menos cinco outras pessoas ficaram feridas.
A polícia suspeita que um só homem, branco, cerca de 30 anos e vestido de preto, fez os disparos de rifle nas salas de espera das duas clínicas, distantes 1,5 km uma da outra.
Nenhum suspeito havia sido preso até 15h35 locais (18h35 em Brasília). A polícia federal (FBI) foi acionada para ajudar nas investigações. Helicópteros e cães policiais participam da caçada humana.
O primeiro ataque aconteceu às 10h15 locais (15h15 em Brasília), na clínica Planned Parenthood, na rua Beacon, centro de Brookline. Ali, uma mulher morreu e três pessoas foram feridas.
Outras três pessoas foram atingidas por tiros minutos depois na clínica Preterm, na mesma rua. Uma delas morreu no início da tarde. Nenhuma das vítimas nas duas clínicas era paciente.
Este é o terceiro episódio em menos de dois anos em clínicas de aborto nos EUA que resulta em mortes. Os outros dois ocorreram na cidade de Pensacola, Estado da Flórida, sul do país.
A cidade de Boston, Estado de Massachusetts, é uma das mais liberais do país em termos políticos e de comportamento. A reação da maioria dos habitantes locais foi de indignação com os atentados de ontem.
Mesmo a porta-voz da maior organização antiaborto do Estado, Teresa Donovan, da Massachusetts Citizens for Life, disse que estava doente com os incidentes: Quem fez isso não faz parte do nosso grupo.
Segundo as primeiras indicações, a arma utilizada nos dois atentados foi um rifle de calibre 22. Nas duas clínicas, o homem entrou na sala de espera carregando um saco, de onde retirou o rifle.
Nos dois casos, ele perguntou se estava numa clínica de prática de abortos e, depois da resposta positiva da recepcionista, começou a atirar de maneira indiscriminada em pessoas que estavam na sala.
A questão do aborto é o assunto social mais polêmico dos EUA. Em 1973, a Suprema Corte decidiu que a interrupção voluntária da gravidez é um direito assegurado pela Constituição às mulheres.
Grupos conservadores têm tentado sem êxito modificar essa deliberação e alguns passaram a defender a prática de atos de violência para disseminar suas idéias.
(Carlos Eduardo Lins da Silva)

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