São Paulo, terça-feira, 1 de fevereiro de 1994
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Safra menor provoca êxodo de bóias-frias

LAURO RUTKOWSKI
DA FOLHA NORTE

A quebra na safra de algodão da região noroeste de São Paulo, provocada pela seca e por uma anomalia desconhecida, está causando a migração em massa de trabalhadores rurais.
Sem algodão para colher em seus municípios de origem, cerca de 10 mil bóias-frias poderão migrar para o Mato Grosso, Minas Gerais e Paraná até o final do mês, segundo estimativas dos sindicatos de trabalhadores rurais da região. Na época de colheita (fevereiro e março), 15 mil bóias-frias trabalham nas lavouras do noroeste paulista.
A safra 93/94 está sendo a pior da história na região. O primeiro problema foi a seca, que se prolongou até metade de novembro e impediu o plantio em setembro, época adequada. Quem plantou no mês certo perdeu a lavoura e foi obrigado a replantar "no tarde".
Em dezembro, as plantas que vingaram foram atingidas pelo "vermelhão", uma anomalia ainda desconhecida que chega a causar a morte do pé.
Resultado: a quebra na safra deve variar entre 50% e 70%, segundo estimativas. Se a perda causada pela seca e pelo vermelhão chegar a 70%, 17 mil hectares de algodão estarão perdidos, resultando em um prejuízo estimado em US$ 15 milhões.
Restarão cerca de 6.500 hectares com produtividade prejudicada, plantados tardiamente ou afetados de forma parcial pelo "vermelhão". A produção deve chegar a, no máximo, 700 mil arrobas –o equivalente a 30% da da safra 92/93.
Nas esquinas das cidades da região, os "gatos" (empreiteiros de mão-de-obra) já estão contratando bóias-frias para a colheita de algodão nos Estados vizinhos, que têm grandes plantações e escassez de trabalhadores especializados na lavoura.
O "gato" João Ribeiro Santos, 45, do Mato Grosso, diz que a quebra deste ano nas lavouras da região vai baratear o custo com a mão-de-obra em seu Estado. "Como o pessoal está meio desesperado, dá para a gente pagar uns CR$ 800 de diária, CR$ 500 a menos que o normal", diz.
Em Alvares Florense, maior produtor de algodão da região, bóias-frias passam o dia nos bares do centro, locais em que os "gatos" da região procuram mão-de-obra.
O bóia-fria Valdecir Rodrigues, 23, diz estar estranhando que até agora nenhum empreiteiro apareceu oferecendo trabalho nas lavouras de algodão. "A gente ouviu falar que os produtores estão arrancando algodão por causa de uma praga. Se isso for verdade, vou para o Mato Grosso trabalhar", diz Rodrigues.
Outro bóia-fria, José Pinto Santana, 37, afirma que nunca "saiu para fora" em busca de emprego, mas este ano talvez procure trabalho longe de casa. "Vou tentar trabalhar em algodão, que é o que eu sei fazer. Se não der, posso pegar em uma obra. É ano de eleição e deve ter muita obra por este país", diz Santana.

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