São Paulo, terça-feira, 1 de fevereiro de 1994
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Ciclo revê obra do 'marginal' Candeias

EDUARDO SIMANTOB
DA REDAÇÃO

Evento: Retrospectiva Ozualdo Candeias
Onde: Centro Cultural São Paulo - Sala Lima Barreto (r. Vergueiro, 1.000, tel. 277-3611, Paraíso, zona sul)
Quando: a partir de hoje até o dia 06
Entrada: franca
O veterano cineasta Ozualdo Candeias, 71, está sendo homenageado com uma retrospectiva de seus filmes mais significativos a partir de hoje no Centro Cultural São Paulo. Em mais de 30 anos de carreira, sua obra distingue-se pelo retrato poético da miséria, composta através de experimentações heterodoxas de um quase autodidata.
Nascido no Mato Grosso, registrado em São Paulo, e criado quase sempre andando, Candeias vivia "de rolo", foi peão e caminhoneiro, e iniciou-se na vocação como cinegrafista de telejornais. Conta que sua formação deu um salto ao participar de um seminário de cinema promovido pelo Masp entre 1957 e 1960.
Em 67 foi finalmente alçado do anonimato com "A Margem". O filme é considerado o marco do cinema marginal da virada dos anos 60/70, não apenas pela temática –a vida dos moradores de uma favela às margens do rio Tietê– mas também pelo fato de mostrar a possibilidade de se fazer cinema com recursos ínfimos.
"Nos anos 60, as pessoas ainda tentavam imitar o modelão americano: produtoras completas com laboratório, estúdio e estrelas, mas na Boca, se entendeu que bastava alugar o equipamento, comprar uns rolinhos de fita, e já dava para fazer um filme", diz ele. Candeias escrevia o roteiro, produzia, dirigia, fotografava, montava tudo sozinho. Não tinha trilhos nem gruas, improvisava com o que estava a mão, e transpunha para os seus filmes o universo de olvidados com o qual sempre co-habitou.
Candeias continuou na Boca mesmo depois do cinema marginal e produziu algumas pornochanchadas, gênero que dominou a região nos anos 70 até o advento do pornô explícito. Circula com desenvoltura na área até hoje, lamentando a decadência que abunda em volta da r. do Triunfo e adjacências, retrato triste da implosão do cinema brasileiro.
Mas Candeias não perde tempo com suspiros vagos. Ainda no dia da entrevista para a Folha, Ozualdo conversava com um agente de atores, procurando uma moça de boa aparência e pretensões de atriz para estrelar em sua próxima investida, um "pornô experimental". Segundo conta, "é um filme sem cavalo, sem homens, apenas com uma mulher".

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