São Paulo, quarta-feira, 2 de fevereiro de 1994
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Declaração de Malan traz confusão de prazo

HUMBERTO SACCOMANDI
DE LONDRES

Uma declaração ontem do presidente do Banco Central, Pedro Malan, em Londres, sobre a data de introdução da nova moeda, causou confusão entre a equipe econômica. A declaração literal foi: "Nós estamos chegando a um ponto em que a economia brasileira está ficando madura num esforço sério de estabilização e que vai envolver o lançamento de uma nova moeda. Se não for este ano, vai ser no ano que vem ou no comecinho de 1996", disse à imprensa.
A afirmação foi entendida como referência a prazo para a implantação da nova moeda, que deve ser chamada de "real". Posteriormente, o presidente do BC procurou a reportagem da Folha em Londres para precisar que sua intenção não tinha sido indicar uma data ou o adiamento da nova moeda, mas sim apresentar o plano de estabilização como um processo.
Malan não quis confirmar uma data para o lançamento da Unidade Real de Valor (URV). Ele afirmou, porém, que o cenário ideal incluiria a aprovação do Orçamento e da emenda que cria o Fundo Social de Emergência.
Segundo Malan, é preciso tempo para que a URV ganhe credibilidade e passe a ser aceita. O governo não pretende impor o uso compulsório. "As partes têm que entender que é melhor contratar num índice estável", disse.
A idéia é estimular o uso da URV em contratos, como o aluguel, mas não para cotar preços de mercadorias em lojas. Contratos intraempresas de longo prazo, que hoje são corroídos pela inflação, poderiam ser feitos com a URV.
O presidente do BC participou ontem em Londres de uma conferência sobre investimentos estrangeiros no Brasil. Ele chamou a inflação brasileira de "obscena" e disse que "nenhuma pessoa responsável, nem mesmo os políticos, acreditam que a inflação possa ser mantida nesse nível". Seu discurso foi muito bem recebido pelos operadores financeiros presentes, segundo a Folha apurou.
À tarde Malan visitou o Banco da Inglaterra, o BC do Reino Unido, onde iria acertar detalhes do acordo da dívida externa. O BC britânico vai servir de depositário da parte não conciliada da negociação da dívida, uma cifra que se origina na diferença de contas entre o Brasil e os credores, e que fica depositada até o acerto final.

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