São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994
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Mais uma análise

FERNANDO AGUSTINI

O Brasil se caracteriza pelo excesso de análises. Talvez seja parte de nossa herança portuguesa. Para uma boa parcela de nossa elite "pensante", e que determina os rumos da nação, sem um mínimo de produção burocrática ou divagatória nenhuma decisão é tomada. Antes de assumir qualquer posição, é preciso gerar incontáveis peregrinações ao reino da fantasia, onde são dissecados não só o sexo dos anjos, mas também os novos paradigmas da essência do ser e do nada –seja lá o que isso signifique! Tudo em longas e tenebrosas reuniões. O blá-blá-blá determina o rumo que não vamos seguir.
Essa prática tem inúmeros adeptos e teóricos espalhados pelos mais diversos segmentos do tecido social. Todos desempenham o cínico papel teatral, a "eficiência de fachada". Ou seja, advogam que só através de "elocubrações intelectuais" será possível resolver os problemas do mundo. No fundo, não querem resolver nada.
A única conclusão possível é a de que vivemos em um país que não quer ou não tem coragem de tomar decisões. Na Presidência da República, nos ministérios, no Congresso Nacional e até no Supremo Tribunal Federal encontramos pessoas que emitem opiniões, mas são incapazes de decidir.
Veja o episódio do julgamento sobre a inelegibilidade do ex-presidente Collor. O empate em 4 a 4 deixou a população perplexa. Como é possível querer que o cidadão acredite nas instituições, se elas são incapazes de "dizer" a verdade? Atos como esse nos fazem sentir como filhos de um pai fraco.
Somos uma nação que perdeu o rumo enquanto conversava sobre que direção tomar. Falta-nos o poder da síntese. Envolvidos pela velocidade das ilusões contemporâneas e um pouco atônitos, acabamos por ficar, literalmente, sem pai nem mãe. E isso só ocorre porque não há definições. E o que é pior: ao analista não compete decidir; o analista especula.
Na área política, essa "síndrome da indecisão" precisa ser contida. As qualidades mais importantes para um político são a rápida compreensão conjuntural de um problema, a planificação de ações e a intervenção imediata, para que o trabalho não fique perdido, envolto em reflexões.
Eis a diferença: análise é território dos analistas e dos cidadãos; a síntese é dos políticos e dos que lideram. A solução está em pessoas que decidam e rápido, mesmo que algumas de suas atitudes mais tarde se mostrem erradas. Afinal, esse deve ser um caminho qualitativamente melhor do que aquele que estamos trilhando.

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