São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994
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Preço do café deve aumentar no varejo

DA REPORTAGEM LOCAL

Preço do café deve aumentar no varejo
Medida que privatiza a retenção de 20% do produto exportado é altista, segundo Américo Sato, da Abic
O cafezinho deve ficar mais caro de agora em diante. A decisão do governo de transferir para a iniciativa privada a retenção de 20% do café exportado para cumprir o acordo dos países produtores deve puxar para cima os preços no varejo.
"Essa medida é altista", afirma Américo Sato, presidente da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café). Em sua avaliação quem vai pagar parte da conta é o consumidor. A maioria das indústrias se abastece nos exportadores, encarregados agora de reter o produto. Eles devem incorporar essa despesa de estocagem no preço que, seguindo a cadeia de produção, vai bater no bolso de quem toma café.
A outra parte da conta deve ser paga pelos produtores. Os exportadores, diz ele, vão tentar comprar o café do produtor pelo preço mais barato. Isso porque no mercado externo o repasse dessa despesa para os preços será difícil. As grandes torrefadoras internacionais trabalham hoje com estoque para seis meses.
"Estamos no fogo cruzado", diz Sato. De um lado a retenção tem efeito altista nos preços. De outro, discute-se um plano de estabilização para conter a inflação. A proposta da indústria é de que 40% do seu consumo seja suprido pelos estoques do governo, que giram em torno de 18 milhões de sacas.
Com preços mais baratos, esse estoque do governo junto com o café adquirido no mercado acabaria segurando as cotações. Dessa forma, diz Sato, seria atendida a exigência de retenção e de estabilização econômica do plano do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.
Tudo indica que não há mais espaço para reajustes. Em 93 a alta no varejo foi de 11,5%, já descontada a inflação. As vendas da indústria caíram mais de 20% real em novembro e dezembro do ano passado, comparado a igual período de 92. A indústria encerrou o ano passado vendendo 1,4% a mais do que 92, contra uma previsão inicial de 4,6%. Em janeiro deste ano, a queda acentuou-se, segundo a Abic.
O recuo no final de 93 foi provocado valorização do café no mercado internacional quando os países produtores discutiam o acordo para retenção do produto. O preço do café verde, matéria-prima da indústria e que responde por 45% do custo de produção, subiu no ano passado 34,56% em dólar em relação a 92. Os preços da indústria para o supermercado tiveram reajuste de 31,94% em igual período.
Com isso, as torrefadoras acumulam defasagem entre 13% e 15% nos preços. A cotação adequada para cobrir os custos é de US$ 4 por quilo, nas contas da Abic. Hoje a indústria recebe cerca de US$ 3 pelo quilo de café.
Resultado: cerca de 80% delas fecharam o balanço de 93 no vermelho. O Café do Ponto, por exemplo, há 40 anos no mercado, registra pela segunda vez em sua história prejuízo. A primeira vez foi em 89.
A situação é mais grave entre as pequenas torrefadoras que, como as grandes estão com parque industrial sucateado, diz Giuvan Bueno, diretor financeiro da Abic. Segundo ele, as empresas menores estão trocando de dono constantemente. O setor reúne cerca de 1.300 torrefadoras.

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