São Paulo, sexta-feira, 4 de fevereiro de 1994
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Artista não merece o descaso

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Brecht disse: "Pobre do país que precisa de heróis". Sobre o centenário de Victor Brecheret, cabe um acréscimo à frase. Mais pobre o país que precisa de heróis e não os reconhece.
O maior escultor moderno do Brasil fez cerca de 600 obras. Pelo menos uma dúzia delas são obras-primas. Sobre seu centenário ser comemorado com duas exposições que não vão mostrar mais de 30 e com um documentário de uma hora, o que dizer? Que é um crime. Um absurdo.
O pior é que tudo vai ficar com a carantonha de evento oficial. São órgãos estatais apenas, e a ênfase é "documental"; basta pensar no lançamento de moeda comemorativa. Nada contra essas realizações, ainda mais se são as únicas lembranças da efeméride.
O descaso com Brecheret, no entanto, não precisa de ocasiões de calendário para ser mostrado. Toda a cidade de São Paulo, e não só as instituições culturais, é culpada. Age como aqueles dois fedelhos que há alguns anos tentaram surrupiar e danificaram as "Graças" da Galeria 24 de Março. Quem já visitou, por exemplo, a excelente "Sepultamento" do cemitério da Consolação? Quem já reparou que aquele "Fauno" no chamado "parque" Trianon é de Brecheret?
A arte brasileira já não é grande coisa; a escultura brasileira, menos ainda. De Aleijadinho a Brecheret é um arco de vácuo. Todos os outros nomes de modernistas que se poderiam levantar –Ceschiatti, Bruno Giorgi, Maria Martins– são de segundo time, ainda que interessantes. Aleijadinho e Brecheret são os únicos de porte internacional. Pobre do país que de tanto olhar para o próprio umbigo quebra o pescoço. (DP)

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