São Paulo, sexta-feira, 4 de fevereiro de 1994
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Musical canta vida e obra de Nazareth

JOÃO MÁXIMO
DA SUCURSAL DO RIO

Show: Nazareth, Um Musical
Direção: Fábio Mello
Elenco: Michael Stone, Thereza Briggs e Jorge Guirrera
Onde: Teatro Cacilda Becker, r. do Catete, 338, (zona central), Rio, tel. 265-9933
Quando: de quarta a sábado, às 21h, domingo, às 20, até 27 de fevereiro, com folga na semana do carnaval
Quanto: CR$ 2.000

Duas partituras de obras de Ernesto Nazareth ("Odeon" e "Apanhei-te Cavaquinho"), encontradas por acaso numa coleção de tangos editada na Alemanha, foram os pontos de partida para um surpreendente espetáculo teatral que estréia hoje no Rio: "Nazareth, Um Musical". A frente dele, como idealizador, autor, ator e pianista, está o inglês que encontrou as partituras numa loja de Kings Street, Londres: Michael Stone.
É no mínimo curioso que a música de um dos maiores compositores brasileiros tenha viajado até tão longe para ser redescoberta pelo público da cidade em que Nazareth nasceu há 134 anos e morreu há exatamente 60 (4 de fevereiro de 1934). As duas obras –mais chorinhos do que tanguinhos– só saíram numa coletânea de tangos porque assim o compositor as classificou. Eram os chamados "tangos brasileiros", ligeiros como o choro e sem nenhum parentesco com seu homônimo argentino. Por causa da classificação que Nazareth lhes deu, saíram na Alemanha, onde se conhece o tango mas não o choro. E como foram parar numa loja da Inglaterra só mesmo o acaso explica.
Por que Nazareth estava numa coletânea de ragtimes é perfeitamente explicável: a música popular para piano das duas primeiras décadas do século foi, em toda parte, uma mistura de elementos europeus com americanos.
Em 1992, Stone conheceu em Londres a atriz Tereza Briggs. Casaram-se, vieram morar no Brasil e começaram a trabalhar juntos numa pesquisa sobre a vida e a obra de Ernesto Nazareth.
O espetáculo que estréia hoje é o resultado da pesquisa. Ao diretor Fábio de Mello coube dar-lhe a estrutura mais teatral que tem hoje, com aproveitamento de espaços e maior movimentação para Tereza e Jorge Guirrera, os dois atores que contam e cantam a história de Nazareth (à exceção de "Odeon", com versos de Vinicius de Moraes, todas as letras são de época, muitas de Catulo da Paixão Cearense, algumas do próprio Nazareth).
"Na verdade", explica Fábio, "coube-me transformar o que seria um recital num espetáculo teatral. Cenários (piano, um poste, um cabideiro, uma cômoda, tudo da virada do século) e guarda-roupa fazem parte do contexto, têm tudo a ver com a narrativa."
23 composições de Nazareth estão no programa. Stone é um pianista mais afinado com a obra do mestre do que seria justo esperar de um inglês que, há dois anos, nem imaginava que pudesse existir no Brasil uma centena de músicas como "Odeon" e "Apanhei-te Cavaquinho". É mais"nazarethiano" do que muito intérprete brasileiro de Nazareth.

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