São Paulo, sábado, 5 de fevereiro de 1994
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Reino Unido pára pesquisa com vírus

HUMBERTO SACCOMANDI
DE LONDRES

O governo britânico ordenou ontem a suspensão de uma pesquisa sobre câncer que envolvia vírus modificados geneticamente. Os trabalhos estavam sendo conduzidos pela Universidade de Birmingham. Segundo as autoridades, havia risco de que amostras do vírus escapassem do laboratório.
A pesquisa consiste na introdução em células humanas de vírus produzidos através de engenharia genética. Os cientistas inseriam nesses vírus genes que provocam câncer. O objetivo do estudo era verificar como os genes atuam para provocar a doença.
A suspensão dos experimentos foi determinada pelo Health and Safety Executive, órgão que fiscaliza as pesquisas biológicas no Reino Unido. Ela irá vigorar até que a Universidade melhore suas medidas de segurança.
"Não foram realizados estudos suficientes e satisfatórios sobre os riscos dessa pesquisa para a saúde humana e o meio ambiente. Não se tem certeza se foi adotado o nível correto de segurança", diz o relatório das autoridades britânicas.
O Departamento de Estudos do Câncer da universidade afirmou que a pesquisa não oferece nenhum perigo. Segundo o laboratório, foram tomadas as medidas necessárias para evitar contágio.
Além disso, o vírus foi "desarmado", isto é, foram retiradas do seu código genético as informações que permitem que ele iluda as defesas celulares e se multiplique. Caso entrasse num ser humano, o vírus seria identificado e destruído. Não se sabe, porém, se o gene cancerígeno poderia afetar a saúde da pessoa.
O risco de vazamento no ambiente de seres alterados geneticamente tem sido ressaltado por organizações ambientalistas. Segundo o governo, esse tipo de pesquisa atemoriza parte da população. Por isso, é preciso manter normas rígidas de segurança. Há 15 anos uma pesquisadora da Universidade de Birmingham morreu após contrair sarampo no laboratório.
Essas normas de segurança, porém, podem logo ser atenuadas. Uma comissão do Parlamento britânico concluiu recentemente que a legislação sobre pesquisa genética é restritiva demais e faz com que empresas transfiram suas pesquisas para outros países. O grupo recomendou a redução das exigências e limitações para que as empresas britânicas possam competir num mercado que já movimenta bilhões de dólares atualmente.

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