São Paulo, sábado, 5 de fevereiro de 1994
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Burroughs, aos 80 anos, ataca guerra às drogas

EDUARDO SIMANTOB
DA REDAÇÃO

O escritor norte-americano William Seward Burroughs, que completa hoje 80 anos, já deixou de lado há muitas décadas a imagem de "junkie" que o fez famoso nos anos 50 e 60, e de onde extraiu o tema de seus primeiros livros. Mais dedicado às experimentações artísticas, continua, no entanto, preocupado com os efeitos sociais da droga. "A guerra contra as drogas é um pretexto sujo para reforçar o aparato policial em cima dos indivíduos", diz o escritor em entrevista exclusiva à Folha, feita por telefone, de sua casa em Lawrence, Kansas.
Nascido em 5 de fevereiro de 1914 em Saint Louis (EUA), neto e homônimo do inventor da máquina de calcular, William Burroughs teve uma juventude abastada, estudou literatura em Harvard e depois medicina em Viena. Em 1938, regressou aos EUA, onde atuou em várias profissões, de redator de uma agência de publicidade e detetive particular a exterminador de ratos e insetos.
Nessa época conheceu Allen Ginsberg e Jack Kerouac, os principais nomes do movimento poético e literário denominado "beat" da década de 50. Os dois eram bem mais jovens que Burroughs, que se tornou mentor intelectual de ambos, fazendo-os ler Kafka, Blake, Yeats, entre outros.
Foi pelo meio da década de 40 que começou a circular entre a fauna de "junkies" de Nova York, tornando-se viciado em opiáceos e inaugurando sua ficha policial. Mudou-se com a mulher, Joan Vollmer, para o Texas, onde faz uma plantação "experimental" de maconha. Com a polícia em seu encalço, transferiu-se para Nova Orleans e, um ano depois, para a Cidade do México.
Fascinado por armas de fogo, mata sua mulher por acidente em 1952, brincando de Guilherme Tell. Inicia então uma descida ao inferno da droga, que o leva à Amazônia em busca do Ayahuasca, ou Yage (conhecido hoje no Brasil como o Santo Daime), e depois, a se instalar em Tanger, no Marrocos. É nesse período que vai mais fundo no vício e que também toma a decisão de se curar da "doença".
Após tratar-se do vício, Burroughs entregou-se a todo tipo de experimentações artísticas. Na década de 60 trava amizade com o poeta e pintor inglês Brion Gysin, com quem desenvolveu a técnica dos cut-ups. O cut-up é um procedimento através do qual associam-se uma série de sentidos simultâneos, montando-os de forma a criar imagens as mais próximas possíveis da percepção humana, misturando sonhos, visões, sons e pensamentos.

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sobre William Burroughs à pág. 5-7

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