São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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Ídolo na Espanha, Oscar esquece seleção

EDGARD ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O mais famoso cestinha da história do basquete brasileiro, Oscar Bezerra Schmidt, descarta qualquer possibilidade de voltar a jogar pela seleção nacional, inclusive no Campeonato Mundial de Toronto, Canadá, em outubro próximo. Nos últimos 15 anos, ele defendeu a seleção em 286 jogos. Aos 35 anos, continua empolgado com o basquete, mas só o de competições interclubes.
Oscar, que desde 81 estava jogando na Itália e é o maior cestinha de todos os tempos daquele país, vive uma nova experiência. Transferiu-se para a Espanha, onde defende o Forum de Valladolid, um dos "lanternas" do Campeonato Espanhol. Apesar disso, o brasileiro segue sua marcha de cestinha, sendo o principal anotador da liga, com média aproximada de 32 pontos por jogo. Contra o Estudiantes, de Madri, marcou 46 pontos, seu recorde na Espanha. Apesar da precisão dos tiros de Oscar, o Forum ganhou apenas 5 dos 20 primeiros jogos que disputou no campeonato. A péssima campanha, no entanto, não preocupa o cestinha. "Estou satisfeito com o respeito dos espanhóis pelo meu basquete", disse por telefone à Folha.
*
Folha - É irrevogável sua decisão de não jogar mais pela seleção brasileira?
Oscar Bezerra Schmidt - É uma decisão tomada desde abril do ano passado, sem volta.
Folha - O que o motivou?
Oscar - Seleção é coisa séria. Foi a equipe na qual mais gostei de jogar, além dos tempos do Sírio. Um grande jogador tem seu tempo e nele deve dar o melhor de si. É triste ver um grande jogador ser encostado. Não quero que isso aconteça comigo. Prefiro deixar a imagem de cestinha, que mantive com sucesso até a Olimpíada de Barcelona. Foi a minha despedida.
Folha - Houve algum atrito com a Confederação Brasileira de Basquete?
Oscar - Pelo contrário, a relação sempre foi ótima. Dei e recebi. Tudo dentro do espírito amadorístico, sem preocupação com dinheiro, por pura satisfação pessoal. Insisto que servir à seleção foi o maior prazer de minha carreira.
Folha - Caso a CBB o convoque para o Mundial, você pode reconsiderar sua decisão?
Oscar - Não, de jeito nenhum. Não quero ninguém lembrando de mim sentado no banco.
Folha - É correta a política da CBB de renovação completa da seleção brasileira?
Oscar - É uma questão de ponto de vista. Vamos esperar que seja bom assim. Vi a seleção Sub-22 e gostei. No final do ano, fiquei impressionado com a seleção paulista que venceu o Torneio de Natal, em Madri. Os pivôs Josuel e Luizão e o ala Chuí estão demais.
Folha - Alguma possibilidade de colaborar com a seleção?
Oscar - Vou querer sempre e estarei à disposição. É meu sonho. Agora, como jogador, meu tempo já passou.
Folha - Além dos EUA, que estão na chave do Brasil, quais as forças do Mundial?
Oscar - O jogo de morte para o Brasil na primeira fase é a Espanha. Os times europeus são fortes. A Alemanha, por exemplo, é campeã européia.
Folha - Como você vai acompanhar o Mundial?
Oscar - Não sei ainda. Pretendo viajar para o Brasil, coisa que não pude fazer no ano passado, pois estava tratando do meu contrato.
Folha - Depois de mais de dez anos de sucesso na Europa, sua situação econômica é tranquila?
Oscar - Ninguém está tranquilo, mas não posso reclamar. Creio que existe segurança para minha família (a mulher Cristina e os filhos Felipe, 8, e Stephanie, 3).
Folha - Até quando você resistirá nas quadras?
Oscar - Aos 35 anos, não tenho nenhuma pretensão de parar. A nível de clube, espero ainda jogar muito tempo. Sinto-me bem, adoro jogar e não sei fazer outra coisa.
Folha - Pretende encerrar a carreira na Europa?
Oscar - Espero que seja no Brasil. Não penso nisso, dá angústia.
Folha - Se fosse convidado, aceitaria vir jogar no Brasil, já?
Oscar - Seria difícil, pois meu contrato com o Valladolid abrange a temporada de 94-95.
Folha - A falta de uma medalha olímpica o aborrece?
Oscar - De jeito nenhum. Minha paixão é o basquete e passei minha vida toda jogando. Não tenho frustracão. Não tem preço que pague 15 anos de seleção brasileira, como ídolo.

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