São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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MAC reúne artistas sob o signo de Miró

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

A exposição "Da Imagética Brasileira e de Miró", em cartaz no MAC (Museu de Arte Contemporânea da USP) até 27 de fevereiro reúne obras de Megumi Yuasa, Maria Tomaselli, Thomas Ianelli, Paulino Torrubia Lazur e Renata Barros. Oque pode haver de comum entre artistas tão heterogêneos?
"O ponto de interseção da obra destes artistas está na presença de elementos particulares que, de certa forma, os relacionam com a arte de Miró", explica a curadora da mostra, Elvira Vernaschi. Ela desencoraja, de cara, qualquer tentativa de se enxergar a "influência" do artista catalão sobre seus colegas brasileiros. Como brinca Thomas Ianelli, "não fomos alunos de Joan Miró". O que significa, então, essa junção de linguagens díspares?
"A exposição nasceu do desejo do MAC de prestar uma homenagem ao centenário de Miró", explica a curadora. "No MAC só tínhamos uma gravura original dele. Minhas opções eram arquitetar uma mostra didática, com posteres, ou então traçar um comentário pictórico menos óbvio, com interpretações brasileiras".
A opção dois foi a escolhida. E assim, Elvira pôs-se a pinçar detalhes mironianos nos trabalhos de artistas que conhecia. A operação durou um ano e trouxe resultados interessantes. Por exemplo, nos acrílicos sobre tela de Lazur –que, por coincidência, é catalão tal qual Miró– ela viu as cores fortes, primárias, os tons amarelo e vermelho que estampam a bandeira catalã e que Miró tanto gostava de reproduzir. As esculturas leves, sintéticas e muitas vezes bem humoradas de Megumi, Elvira relacionou com a qualidade espontânea e simples do pintar mironiano.
Essa mesma qualidade está presente na obra de Renata Barros, traduzida numa linguagem mais contemporânea. Renata trabalha tensões pictóricas com jovialidade. Suas telas com nuances de azuis e verdes são pura delicadeza. As cores, aquareladas, ganham transparência e ocupam enormes espaços, com a mínima interferência de poucos traços e pontos. Esses formam uma sequência que ganha ar de escritura. A espontaneidade ganha um código, como nos traços de Miró.
Já Maria Tomaselli viaja num mundo de formas superpostas, surrealisticamente na pista de Miró. Com genialidade, segue Thomas Ianelli, que esboça o lúdico, trabalhando no limite entre abstração e narrativa. "Para mim, tudo é criado a partir da somatória de cor e forma, diferente de Miró, que começava a criar a partir do gestual", diz o artista.

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