São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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'TV Tribunal' é fenômeno de público

FERNANDA GODOY
DE NOVA YORK

Uma nova mania está mantendo os americanos grudados à televisão. Trata-se da Court TV (TV Tribunal), emissora a cabo que tem alcançado médias de 350 mil espectadores por dia com transmissões ao vivo dos principais julgamentos do país. Em determinados horários, há mais gente ligada na Court TV do que em canais bem estabelecidos, como CNN e ESPN.
A fórmula do sucesso mistura crimes chocantes, dramas familiares, celebridades no banco dos réus e uma equipe de especialistas capazes de desvendar o processo judicial para leigos. Através da Court TV, fundada em julho de 91, os norte-americanos viram Woody Allen e Mia Farrow brigarem pela guarda dos filhos e William Kennedy Smith ser julgado por estupro. A fórmula funciona: o som é ruim, a imagem é pobre, mas espectadores ligam reclamando porque pretendiam assistir dez minutos e passaram 14 horas diante do aparelho de TV.
Se caras famosas garantem boas audiências, casos sensacionais transmitidos pela emissora acabaram transformando desconhecidos em figurinhas fáceis de costa a costa. É o caso de Lorena Bobbit, a mulher que cortou o pênis do marido, John Wayne Bobbit, e foi absolvida pelo júri. A exibição ao vivo do julgamento, no qual Lorena alegou ter sido agredida e estuprada pelo marido repetidas vezes, acabou servindo para que ela ganhasse ampla solidariedade.
A equipe de cerca de cem jornalistas, produtores e advogados da Court TV seleciona os assuntos que irão ao ar dentro de um verdadeiro mar de processos. Mais de dois milhões de ações legais são movidas todo ano nos EUA. "Procuramos aquelas que tratem de assuntos em evidência, como assédio sexual ou discriminação contra aidéticos", disse Fred Graham, o principal âncora da emissora (leia entrevista abaixo).
Contar com celebridades não é um bom negócio. Segundo a experiência da emissora, a maioria das estrelas acaba fazendo acordos fora dos tribunais, como foi o caso, recentemente, de Michael Jackson. Mas grandes histórias com personagens comuns podem fazer estourar a audiência da emissora –como os julgamentos dos irmãos Menendez, Erik, 23, e Lyle, 26, acusados de matar o pai e a mãe para ficar com uma herança de US$ 14 milhões.
Quando não está transmitindo ao vivo –a média é um ou dois julgamentos por dia–, a Court TV passa videoteipes, programas jornalísticos ou de debates. A emissora tem uma linha telefônica direta que fornece vereditos. Os espectadores também podem ligar para dar suas opiniões sobre o andamento dos julgamentos, mas pesquisas de opinião são evitadas. "Não queremos dizer aos jurados o que fazer", justifica Graham.

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