São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 1994
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A convicção do título move o Palmeiras

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Onze gols em três dias. Dá um gol pra cada jogador desse timaço que parece ter nascido com a estrela de campeão. Uma medalha no peito de cada um desse time que joga no embalo da certeza da vitória. É isso: o Palmeiras move-se em campo com a absoluta convicção de sua superioridade. Não confundir com pretensão ou pedantismo. Ao contrário, é um time até sisudo demais para o brilho natural de suas estrelas. Na goleada de 6 a 1 sobre o Ituano, no sábado, por exemplo, nem mesmo Edmundo exagerou na sua incontida irreverência com a bola. Fez jogadas de efeito, marcou gols, deu outros a seus companheiros, mas tudo dentro dos limites que demarcam o jogo coletivo, solidário, competitivo, essencial para a conquista de um título como o deste ano.
Não quero, porém, fechar esta nota sem antes levantar a bola de um jogador que é a própria materialização desse espírito: o multifacetado meia Mazinho, um estilista que antes enfatizava o drible, a coreografia, a moldura rebuscada da jogada que encanta mas não define. Hoje, Mazinho pratica um futebol enxuto, pragmático, extremamente funcional e tático. É, enfim, a verdadeira âncora desse luminoso meio-campo palestrino.
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O clássico de ontem, no Canindé, foi um sinal de que o São Paulo está no páreo. Sim, porque mesmo desfalcado de Válber, Cafu, Leonardo e Palhinha, mesmo com Vítor expulso na metade do primeiro tempo, ainda assim, conseguiu empatar com a Lusa por 1 a 1. Quer dizer: está no páreo, mas muito distante do Palmeiras, a não ser que Telê volte rapidamente com sua varinha mágica e consiga fazer esse time desenvolver um futebol à altura dos velhos-novos tempos.
É bem verdade que, mesmo com um a menos, o tricolor foi mais incisivo que a Lusa, um time obviamente sem alma. Mas não o suficiente para ganhar. Achou o seu gol de empate com um cruzamento de André, que ganhou efeito no ar e traiu o goleiro. E, se teve uma atitude mais agressiva, jamais chegou a revelar tal agressividade que justificasse a vitória. Foi, enfim, uma superioridade fria.
Quanto à estréia de Euller, o silêncio é a mais eloquente crítica. Trata-se, naturalmente, de um jogador dependente dos companheiros. Se for devidamente acionado, por certo, poderá criar situações delicadas para o adversário. Mas, se depender dele mesmo, nada. Parece ser mais uma flecha sem arco.
Já a Lusa continua a mesma: embora tenha alguns jogadores de alto nível, carece basicamente de autoconfiança.
E mais: dá-se ao luxo de deixar no banco de reservas jogadores como Dinei e Maurício, o que, no mínimo, é uma prova de desorientação.
Enfim, esse empate de 1 a 1 acabou caindo como uma luva para um clássico que atingiu, no máximo, uma temperatura morna.
Resumindo: ambos terão de melhorar muito se quiserem disputar com o Palmeiras o título de campeão deste ano.
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O futebol carioca deu um salto pra frente, sem dúvida. Só a moralização no seu departamento de arbitragem já é um grande feito. Quanto ao fortalecimento de suas equipes, prefiro ficar na retranca. Afinal, o Flu que vi sábado à noite, todo renovado, inclusive com Luís Henrique, foi, no mínimo, um frustrante exemplo.
Quem sabe, com o tempo...

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