São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 1994
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'Falta pouco para nosso título'

NANDO REIS e MARCELO FROMER

NANDO REIS; MARCELO FROMER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Era só o que faltava! Não sabemos se foi a chegada da nova camisa, a crença na suposta fragilidade de nossos adversários, a ilusão de que ainda somos os melhores do mundo, ou se algum anjo soprou uma revelação nos ouvidos do Teimoso. Mas o fato é que já mandamos o alfaiate bordar a quarta estrela sobre o bravo distintivo e que um incontrolável otimismo tomou de assalto nossos dois treinadores. De repente, como num passe de mágica, o que era problema já encontrou solução, o que era dúvida se fez certeza. Na seleção agora tá tudo globeleza.
Tudo anda as mil maravilhas. Depois de assistirmos de camarote o nosso craque falastrão Romário deitar e rolar com seus palpites-convocação, quem vem botando as mãozinhas para fora do xale é o secular Havelange, o sogro, sugerindo a escalação do trio Bebeto, Romário e Edmundo. Devido a sua idade avançada seria mais conveniente que o ancião da Fifa dirigisse seu ímpeto de treinador para a escalação da seleção de Masters, que, "logicamente", não contaria com a presença do Pelé...
Tudo é festa e, pelo visto, os tambores de Carnaval não irão cessar seus repiniques até a confirmação do título. Ficamos sabendo que, além do juiz e do psicólogo, teremos também acompanhando a delegação a figura empolgante do Sargentelli. Na base do oba-oba já vamos sambando no avião: o Brasil é tetra!
E tudo isso vem nos tranquilizar um bocado, pois antes mesmo de entrarmos em campo já somos praticamente campeões do mundo. Ainda bem, porque se tivéssemos que jogar, talvez as coisas se complicassem para o nosso lado. Mas já não há como evitar; o clima de já ganhou se instaurou ferrenhamente mesmo estando a cinco meses da competição. Um favoritismo inquestionável sobrevoa a cabeça dos nossos dois comandantes como um Dunga e um Mauro Silva rondam a nossa cabeça de área.
Talvez fosse o momento, a hora exata de retirarmos a nossa contagem regressiva lá no pé da página. Afinal parece que somos os únicos a destoar nesse quadro de entusiasmo e confiança. Mas, alto lá, é preciso que algumas coisas sejam devidamente esclarecidas.
Essa contagem é simbólica e emblemática de um descontentamento. Essa contagem não é, de maneira nenhuma, a contagem de quem quer que o Brasil perca mais uma Copa. Pelo contrário, nós queremos o Brasil campeão e por isso mesmo clamamos por mudanças no comando da seleção. Mudanças que, se não poderão ser de nomes, e pelo visto não serão mais, que pelo menos sejam de suas atitudes. E se mesmo assim elas não vierem, nós vamos torcer como todo brasileiro apaixonado por futebol. Afinal na paixão não há razão.
E para mostrar que não estamos vociferando à toa vamos recorrer novamente a um velho exemplo e estabelecer uma frontal comparação. Telê está voltando de suas férias, e, mesmo quando esteve ausente, algumas de suas idéias se fizeram presentes. Vejamos o caso Catê: todos viram o que o jovem ponta fez durante a Taça SP de Futebol Júnior. Imprensa, torcedores, todos foram unânimes em afirmar que era um contra senso mandá-lo para o Cruzeiro. Pelo seu potencial, seus dribles à la Garrincha e tudo mais. O Telê é mesmo um louco, pensaram os mais afoitos. Por que será que ele implica tanto com o garoto? E não é que na hora em que o São Paulo parecia estar com o título nas mãos, numa atitude impensada, ele acabou prejudicando o seu time numa expulsão infantil e desnecessária?
Por essas e por outras que o Telê sempre diz que não adianta ser só craque, é preciso ter também cabeça. Enquanto isso, o que fizeram Parreira e Zagalo no caso Romário? Nada, absolutamente nada é o que esses dois têm feito. Telê, o eterno Fio da Esperança que vive e transpira futebol, não é o nosso técnico e só Deus sabe por que.
Com o Teimoso só faltam 129 dias para começarmos a perder mais uma Copa.

Marcelo Fromer e Nando Reis são integrantes da banda Titãs

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