São Paulo, terça-feira, 8 de fevereiro de 1994
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Programa financia melhoramento genético

SÉRGIO PRADO
ENVIADO ESPECIAL A UBERABA

Nasce em Uberaba, no Triângulo Mineiro, um projeto de reprodução de bovinos que pode alterar os rumos da pecuária nacional. Esta perspectiva começa a ser delineada através de uma parceria formada pela empresa Nova India Genética e pelo Banco do Brasil, para financiar programas de melhoria genética através da transferência de embriões.
O acordo prevê para este ano a liberação de US$ 4 milhões. Estes recursos podem ser obtidos por pequenos e médios proprietários que têm registro de produtor rural. "Será uma maneira barata e eficiente para o melhoramento de nosso gado", afirma Luiz Humberto Borges, 39, diretor-superintendente da Nova India.
A grande vantagem da utilização do processo de transferência de embriões é a rápida multiplicação do potencial genético de matrizes de elite.
Através desta técnica, uma vaca que produz normalmente uma cria por ano é capaz de proporcionar até 50 gestações. Desta forma, com poucas fêmeas é possível a criação de um plantel homogêneo e de alto padrão. Borges ressalta que o trabalho terá a inseminação artificial como aliada, utilizando sêmen de touros selecionados.
Criadores mineiros de nelore apostam neste método como a maior arma para o desenvolvimento do rebanho brasileiro. Hoje o país possui cerca de 150 milhões de cabeças, sendo que 90% deste total são de origem zebuína.
Apesar deste volume de animais, o rebanho nacional de elite é pequeno. Devido ao alto custo dos projetos de desenvolvimento genético, poucos possuem condições de realizá-los.
"A transferência de embriões vai socializar a pecuária, facilitando o acesso de animais de primeira linha a um maior número de pessoas", prevê Lúcio Costa, 63, sócio da Nova índia e integrante da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu).
O programa é destinado a criadores que ainda não dispõem de tecnologia para o trato com animais selecionados. "A fim de evitar que o dinheiro fique na mão de poucos, vamos limitar os pedidos a 60 animais por propriedade", diz Borges.
Para incentivar ainda mais os interessados, o Banco do Brasil oferece boas condições de pagamento. A dívida será parcelada em até 24 vezes, com juros de 12,5% ao ano mais correção monetária e carência de 12 meses.
Devido ao perfil dos produtores que serão beneficiados, a Nova India ficará responsável pelo acompanhamento técnico desde a solicitação do crédito. O objetivo da empresa é fornecer uma cartilha sobre a aplicação de vacinas e, após o nascimento, instruções para manejo correto.
O início do fornecimento está previsto para acontecer ainda este mês. A Nova India atenderá pedidos dos pecuaristas através da prestação de serviços ou da comercialização dos embriões.
Baixo custo
No primeiro caso, o interessado entra com a vaca doadora e compra apenas a prenhez por cerca de US$ 1.000. Por esta quantia, adquire ainda o direito de ficar com a fêmea que servirá de receptora, uma espécie de "mãe de aluguel". A matriz será devolvida prenhe no final do contrato.
A outra possibilidade para uso do financiamento beneficia o criador iniciante, que poderá escolher a mãe do bezerro dentre as fêmeas da Nova India. "Usando esta opção, o comprador recebe a receptora prenhe e paga entre US$ 2.000 e US$ 4.000", explica Borges.
Em ambas as modalidades, serão utilizadas como receptoras vacas girolanda, todas com registro. Isto as torna isentas de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), fator que facilitará o intercâmbio entre os Estados.
A raça tem como característica a produção média de 12 litros de leite ao dia, uma garantia de que os bezerros terão boas condições para crescimento.

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