São Paulo, terça-feira, 8 de fevereiro de 1994
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Fleury resiste em dar apoio a Quércia

EMANUEL NERI; XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao contrário do que esperava, Orestes Quércia não obteve ontem o apoio do governador de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho, para sua candidatura a presidente da República. "Não é o momento de se discutir candidatura", disse Fleury. No domingo, Quércia foi ao palácio pedir seu apoio. A decisão de Fleury, que também tem planos presidenciais, poderá criar um novo foco de crise entre ele e seu antecessor.
Quércia contava com o apoio de Fleury. No final da tarde de ontem, após reunião com a bancada federal do PMDB, o ex-governador disse que Fleury lhe informara que não pretendia se candidatar a presidente. "Saio candidato com o apoio do PMDB de São Paulo", declarou. Segundo ele, a maioria da bancada federal também o apoiava. Fleury deu outra versão para esse apoio. "A bancada não tomou nenhuma decisão".
No lugar do apoio a Quércia, Fleury preferiu falar de "candidato de consenso". "Vou ouvir outros nomes já colocados. Minha conduta tem sido buscar o consenso", afirmou. Na verdade, ele conta com o impasse da candidatura quercista para tentar se viabilizar.
Antes de saber das declarações de Fleury, Quércia chamou o PMDB gaúcho, contrário à sua candidatura, de "quinta coluna" (referência a traições). Atacou o ex-ministro Antônio Britto, apontado como o presidenciável preferido da chamada "ala ética" do PMDB. "Desconfio muito dessas pessoas que batem no peito e dizem ser honestas", afirmou.
O ex-presidente do PMDB tratou com ironia o governador do Ceará, Ciro Gomes (PSDB). Ao saber que Ciro pretende processá-lo, indagou:"Com brinco ou sem brinco?" Na última sexta, além de chamar Ciro de "porca prenha", Quércia o acusou de usar "brinco fora do expediente". O ex-governador disse ter "chumbo bastante"'para atacar seus adversários na campanha eleitoral.
Quércia iniciou uma série de conversas para obter apoio de políticos do PMDB. Já conversou, por telefone, com os governadores Íris Rezende (GO), Jáder Barbalho (PA) e com o senador José Sarney (AP). Hoje vai falar com os governadores Gilberto Mestrinho (AM) e Ronaldo Cunha Lima (PB). Segundo Quércia, seu único projeto para a próxima eleição é a disputa pela sucessão de Itamar Franco. "Se perder a convenção, apóio quem ganhar". Informou que não concorrerá ao governo de São Paulo, caso sua candidatura a presidente se inviabilize.
Quércia terá problemas dentro do PMDB. Em reunião, ontem, no Palácio dos Bandeirantes, entre Fleury, o presidente do PMDB, Luiz Henrique, e o deputado Nelson Jobim (PMDB-RS), a avaliação era a de que a candidatura quercista não vai deslanchar. Um dos motivos seria o atual nível de exigência ética da sociedade para os candidatos a presidente.
Independente disso, Quércia já começou a elaborar seu programa de governo. Os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e João Manoel Cardoso de Mello vão coordenar a redação do texto.

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