São Paulo, terça-feira, 8 de fevereiro de 1994
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Calendário manda fut para as calendas

MATINAS SUZUKI JR.

Meus amigos, meus inimigos, o Palmeiras começa hoje a enfrentar o seu principal adversário desta temporada: o calendário –não lunar, mas lunático.
O calendário é regulamentado pela rotação da terra em torno do sol. E o sol é uma bola. Mas, nada mais inimigo do jogo de bola aqui nesta terrinha do que o próprio calendário.
A procissão interminável de partidas que o São Paulo percorreu no ano passado deverá se repetir, acrescida pelo número sem fim de jogos do Palmeiras.
O resultado é previsível: mesmo com o momento bastante atrativo do nosso futebol –especialmente o paulista–, não há público para tanto jogo.
Além disso, chega um momento em que o time passa a viver uma espécie de síndrome de pânico da bola: o stress atlético leva a um tipo de depressão futebolística. Imaginar a disputa de um jogo passa a ser um tormenta para o atleta (lembre-se do São Paulo, na temporada passada, enfastiado da bola).
E é inegável também que o excesso de disputas diminui a vida útil dos jogadores. Será que os cabeceiras desta nova geração dourada do futebol poderão repetir a longevidade esportiva de um Júnior ou de um Cerezzo, por exemplo?
Quase quatro horas de vôo para ir para a Teresina do poeta Torquato Neto (existirmos, a que será que se destina?), depois mais quatro para voltar amanhã, um calor de rachar catedrais, e o Palmeiras enfrenta hoje o 4 de Julho, que canta "eu vim de Piripiri, eu vim de Piripiri".
Na quinta, já aqui em São Paulo, o verdão tem um jogo de alta responsa: arrosta o também líder União São João, que deve estar preparando, cavilosamente, a sua vingança pela derrota diante do diabólico América.
No sábado, ufa!, o Palmeiras pega a Portuguesa, em disputa que deverá também exigir muito do time. Mas isto não é o pior. O jogo de volta contra o 4 de Julho, pela Copa Brasil, está "bookado" (como se diz hoje em dia) para o próximo dia 25.
De só uma olhadinha na semana que espera o Rincón e seus companheiros: no dia 19, sábado, pegam o fortíssimo Guarani e jogam contra o artilheiro Djalminha e a tradição de sempre sofrerem, não nas mãos, mas no pés do bugre. Na quarta, a tabela do Paulistão prevê a partida contra o Novorizontino (o mesmo que empatou a vida do Corinthians, com Rivaldo e tudo) e, no domingo, dia 27, o Plameiras joga sabe contra quem? Bidu. Contra o São Paulo. O tricolor que, apesar das travancas, continua sendo o inimigo público número 11 do Palmeiras na temporada. Nesta conjuntura, o suposto handicap positivo para o verdão - o de ter um jogo a menos no Campeonato Paulista - pode deixar de ser uma vantagem. E se tornar um pesadelo. O calendário no futebol brasileiro existe apenas para, literalmente, mandar o bom jogo de bola às calendas gregas. Já que falei acima em solidaridade, uma das pessoas iluminadoras do futebol brasileiro contemporâneo está na "morada do sol", Araraquara , - que é terra do Zé Celso e foi visitada pela dupla Simone/Sartre. A imagem do Moraci Sant'Anna sentado ao lado de Telê, no banco de reservas, com um "lap top" no colo, anotando cuidadosamente os números do jogo entre São Paulo e Milan, é um dos signos mais fortes da modernidade no futebol brasileiro. Foi flagrada lá na terra do sol e do gol nascente. Não sei, não, mas o São Paulo perder o Moraci me parece uma insensatez desesperançosa. O futebol, como a poesia, precisa de luz.

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