São Paulo, terça-feira, 8 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para tudo se acabar na quarta-feira

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – A época talvez seja mesmo a mais conveniente para se votar o eixo do Plano FHC, o tal Fundo Social de Emergência (FSE). É Carnaval, aquela festa em que tudo acaba na quarta-feira, como diz uma velha música.
Se o Congresso rejeitar o FSE, também Fernando Henrique Cardoso se acaba na quarta-feira, ao menos como ministro da Fazenda, se cumprir as reiteradas ameaças de demitir-se caso os parlamentares não lhe dêem o FSE. Como o Carnaval acaba na quarta-feira, mas também começa na quarta-feira (o Carnaval do ano seguinte), vale idêntico raciocínio: na quarta-feira, acaba a fantasia de ministro e começa a de candidato presidencial.
Se a nova fantasia emplaca ou não, é uma questão em aberto. O fato é que o país volta a viver aquele ambiente carregado de véspera de grandes momentos, de tudo ou nada, de vai ou racha.
Há uma hipótese intermediária. Nem tudo nem nada, nem vai nem racha. O Congresso pode adiar de novo a votação ou pode aprovar parcialmente a proposta do Executivo. Aí, o samba-enredo terá que ser reescrito para adequar-se a uma situação menos épica, menos tremendista.
Começa a dar um imenso cansaço dessas situações-limite. Até porque fica cada vez mais difícil emocionar-se com os temas que as embalam. Uma coisa era matar ou morrer pelas Diretas-Já, pelos quatro ou cinco anos para Sarney, pelo impeachment ou não-impeachment. Outra, bem menos sensacional, é matar ou morrer pelo FSE.
Não consigo imaginar uma única pessoa que se disponha a sair às ruas com uma faixa do tipo "FSE ou morte" ou um cartaz que diga "abaixo o FSE". O Datafolha deveria fazer uma pesquisa, perguntando quantas pessoas sabem que diabo é esse tal de FSE. Se mais de 1% disserem que sabem, ou mentem ou o Brasil progrediu terrivelmente nos últimos 60 dias.
Enfim, é um Carnaval atípico. Já na segunda-feira, o ministro anuncia: "Fiz o que pude, cheguei ao limite do possível". É o final do discurso de segunda-feira ou o início do pronunciamento da Quarta-Feira de Cinzas?

Texto Anterior: Fechando o ralo
Próximo Texto: "Não me sobrou alternativa"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.