São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Outro time para enfrentar a nossa linha

EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, as vitórias do Corinthians e do São Paulo, mais o empate do Palmeiras, durante a semana, esquentaram a rodada de hoje. Hoje é dia fazer samba e amor até mais tarde. Hoje é dia do bate bola e do bate bumbo.
Eu conheço este bumbo! Este bumbo é da Mangueira! E a Mangueira me chama, eu vou, como cantaria o Nelson Cavaquinho. Então avisa lá que eu vou chegar mais tarde. Então avisa lá que eu vou.
E atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu. E atrás do ataque com os cinco endiabrados da bola também só não vai quem já morreu. Nós queremos cinco terrores na frente. Nós queremos uma comissão de frente arrasadora.
Aquele artilheiro esperto confessou para o muito Ben Jor que em véspera de jogo bate o bumbo. Bate bumbo, bate bola e diz assim: "se esta bola sobrar pra mim/ pode vir me abraçar/ que é gol". E quem canta é a Gal. E a gente quer a Gal. E a gente quer o gol. Muito gol.
Então a coluna de hoje é dedicada ao samba e aos cinco artilheiros que farão um ataque histórico. Alô, alô, não se esqueça de mim. E não se esqueça que nós estamos querendo cinco. Não se esqueça de que nós estamos querendo estrelas. Estrelas de cinco pontas. Pontas de lança. Pura tecnologia de ponta do verdadeiro futebol de vanguarda do Brasil.
Guarde aí os cinco nomes que entrarão para história da alegria: Edmundo, Bebeto, Romário, Dener e Muller. E aí vai ser canja. Vai ser canja de galinha. Arranja outro time para enfrentar a nossa linha.
E uma das coisas mais lindas do carnaval brasileiro é a saída do Ylê Ayê, lá no bairro da Liberdade, em Salvador. E alô, alô, Vovô, o baile da beleza negra não é só dez, é mil!
Ylê, Olodum, Timbalada, teen bolada, a saída para o Brasil tem que levar em conta a originalidade, a criação, as fontes primordiais de re-elaboração das informações que giram por aí.
O futebol chegou aqui pelo colonialismo britânico. Passou meio século sendo antropofagicamente deglutido até virar produto de exportação. Agora, chegou o momento de uma nova virada no nosso futebol.
Todos jogam futebol do mesmo jeito. Você pode conferir na sua janelinha eletrônica aberta para os campos do senhor deste mundão afora. 4-5-1, 4-5-2 ou 4-4-2, na verdade, são as pequenas variações sobre o mesmo tema. São os mesmos sambas de uma nota só.
Mas, no Brasil de hoje, não, gavião! No Brasil cresceu e brotou uma novíssima geração de jogadores extremamente habilidosos com as bolas nos pés, dribladores de primeira, rápidos, que sabem se posicionar e, sobretudo, são goleadores.
Nenhum outro time no mundo hoje tem este potencial explosivo, este arsenal atômico. Chegou o momento da ousadia. Chegou o momento da afirmação. Parreira só teria razão para os seus argumentos se ele não pudesse contar com a safra excepcional de atacantes que nós dispomos no momento. Uma safra para dar vinhos memoráveis, seu Parreira!
Assim como não adianta querer implantar na marra no Brasil as determinações do neo-liberalismo que todo mundo conjuga na ordem mundial, será um desperdício, uma falta de visão de conjuntura futebolística, não perceber que chegou a hora e a vez de enfiar os cinco dos mais geniais atores da bola do país.
A "lost generation" do futebol brasileira era pródiga no meio-de-campo: Falcão, Sócrates, Cerezzo, Zico –e também o Batista. Telê arrumou um jeito de acomodá-los em uma seleção maravilhosa. Uma década depois e o futebol brasileiro renasce sob a égide dos artilheiros. É só escalá-los e correr para os abraços.
Matinas Suzuki Jr. escreve nesta coluna às terças, quintas e sábados.

Texto Anterior: Saramanch anuncia viagem a Sarajevo; FRASE 1; FRASE 2; Tapie diz que não vai sair do Olympique; Gerente do Bremen foi espião da KGB; Maturana pode ir para o Real Madri; Sachi faz convocação da seleção italiana
Próximo Texto: Por que os times argentinos não ganham a libertadores da América há 7 anos?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.