São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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Castor diz que não vai ao Sambódromo

PLÍNIO FRAGA; LUIZ CAVERSAN
DA SUCURSAL DO RIO

O Carnaval do Rio de Janeiro deste ano deverá ter uma ausência marcante: Castor de Andrade, 72 anos completados ontem, condenado em maio passado, com 13 companheiros, por formação de quadrilha, preso e liberado por problemas médicos.
O mais famoso bicheiro do Rio de Janeiro garante que passará o Carnaval fora da avenida pela primeira vez em mais de 20 anos. Mas o patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel, amigo pessoal do vice-presidente da Globo, o José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, e reverenciado por autoridades –como o prefeito César Maia– pode surpreender e aparecer. Leia a seguir trechos da entrevista que ele deu à Folha logo após visitar seu filho, Paulinho Andrade, que continua preso na sede da Polinter.
*
Folha - Quais seus planos para o Carnaval?
Castor de Andrade – Claro que não pretendo passar o Carnaval no Rio. Vou me recolher à fazenda dos meus pais. Estarei lá com minha família. Talvez assistirei ao desfile da minha escola pela televisão.
Folha - O senhor patrocinou o Carnaval da Mocidade deste ano?
Castor - Absolutamente. Devo prestar minha colaboração quando minha presença for necessária e efetivada, mas claro que ela pode vencer sem mim.
Folha - As escolas hoje têm um esquema empresarial tão forte que não precisam mais de patronos?
Castor - Não sei se precisam de patrono ou não. Sei que quando a oportunidade se fizer necessária, e eu puder voltar para minha escola, é claro que vou me conduzir como um patrono, procurando ajudá-la. O momento que atravessamos é difícil, depois de sofrermos essa condenação injusta. Guardo uma revolta muito grande. Mais ainda pela condenação do meu filho Paulo Roberto. Não havia prova alguma para justificar a condenação do Paulo. Em relação a todos nós não houve nenhuma prova, mas o caso do Paulo é mais gritante. É um rapaz primaríssimo, nunca teve antecedentes, nunca teve nenhum comprometimento que pudesse trazer justificativa para essa condenação.
Folha - Os acusados por desvios de verbas do Orçamento estão soltos. Como o senhor acompanhou todas essas denúncias?
Castor - Confesso que não tenho capacidade para julgar ninguém. Acho que cada um sabe onde lhe aperta o sapato, onde lhe dói o calo. Sinto uma injustiça muito grande para nós que fomos condenados. Eu realmente já militei na contravenção durante muito tempo e se tenho que sofrer algum castigo até ele poderia ser admitido, embora fosse injusto no momento. Mas ao meu filho, isso é uma injustiça tão grande que jamais poderia receber ou aceitar.
Folha - O senhor abandonou o jogo do bicho?
Castor - Claro. Há muito tempo e por várias razões. Primeiro, porque minha saúde não permite. Segundo, porque minha idade não deixa que eu participe desse tipo de aventura que na época passada tive.
Folha - O senhor pretende voltar à Mocidade?
Castor - Logo depois que eu conseguir rever essa situação e as coisas voltarem ao normal, é evidente que voltarei para minha escola. Embora saiba que isso vai trazer novos transtornos. Porque a notoriedade incomoda muita gente. Todas as pessoas que se tornaram notórias foram alvo de invejas e perseguições de toda espécie. Sei que essa notoriedade é prejudicial, mas quando tiver oportunidade, rever a injustiça, volto a ajudar meu clube, o Bangu, e a minha escola, a Mocidade, que são os amores de minha vida e de minha comunidade. (Plínio Fraga e Luiz Caversan)

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