São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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NBA volta a ser a Terra de Gigantes

MELCHIADES FILHO
DA REDAÇÃO

O All Star Game desta noite recoloca a NBA nos trilhos de sua história. A liga profissional de basquete dos EUA volta a se transformar na Terra de Gigantes –depois de 15 anos de "acidente de percurso", personificado pelo extraordinário trio Magic Johnson/Larry Bird/Michael Jordan.
A NBA nem existia e o profissionalismo no esporte apenas engatinhava quando apareceu o primeiro gigante do basquete norte-americano. Seu nome: George Mikan. Sua virtude: 2,08 m.
Mikan foi o cestinha durante sete temporadas seguidas. Começou seu reinado em 1946, na National Basketball League –que mudou de nome ainda uma vez antes de virar a NBA em 1949. Conquistou a média de 22,2 pontos em nove temporadas e, em 1950, foi eleito o maior jogador da primeira metade do século.
Míope e barrigudo, porém, Mikan não teria vez no basquete atual. Relatam os escritos da NBA que o pivô era lento –seus companheiros do Minneapolis Lakers tinham às vezes que esperar mais de 30 segundos para que ele atravessasse a quadra (na época não havia limite de posse de bola).
Foi só em 1956, um ano depois da aposentadoria de Mikan, que surgiu o pivô moderno. Com a pontaria apenas razoável (jamais teve uma média de acertos superior a 50% numa temporada), Bill Russell revolucionou o basquete ao se dedicar ao jogo defensivo.
A partir de Russell, 2,08 m, a NBA passou a valorizar tocos, rebotes e, principalmente, intimidação. Durante suas 13 temporadas na NBA, o pivô foi 11 vezes campeão –oito consecutivas e duas delas como técnico/jogador.
A melhor definição sobre a importância de Russell talvez tenha sido dada pelo companheiro Bob Cousy, o armador dos Celtics: "Se um adversário superasse a marcação individual, bastava gritar 'ei Bill' que ele se encarregava de impedir o arremesso".
A hegemonia do pivô de Boston só não foi total porque a liga teve na década de 60 outro supergigante: com 2,17 m, Wilt Chamberlain, artilheiro nas suas primeiras sete temporadas na NBA.
Com um dos melhores preparos físicos da história do basquete –fora decatleta na universidade e depois de se aposentar foi um dos pioneiros do vôlei de quadra nos EUA–, Chamberlain detém também o recorde de pontos em um só jogo. Anotou 100, contra o NewYork Knicks em março de 1962. Mas a fome de cestas de Chamberlain sempre esbarrou na competitividade - mais baixo, mais fraco e no entanto, mais vencedor. No final de sua carreira, o artilheiro lamentou, rancoroso, que "ninguém torcia por Golias". Em sua biografia, escreveu que as mulheres eram o consolo - vangloriava-se de outro "recorde", 2.000 amantes durante sua carreira. Chamberlain deixou a liga depois de 14 anos, com a média de 30,1 pontos por jogo - numa temporada, 1961-1962, chegou aos incríveis 50,4 pontos por partida. Só chegou, porém, a um título, em 1967, com o Philadelphia 76ers. Em 1969, surgiu o último superpivô antes da atual "geração de ouro"; o soturno Lew Alcindor, depois Kareem Abdul-Jabbar, 2,20 m, o maior cestinha da história da NBA: 38.367 pontos. Kareem era tão bom que a liga das universidades norte-americanas proibiu temporariamente as enterradas em seus torneios na vã tentativa de equilibrar os jogos de que ele participasse. Fracasso. Kareem então aperfeiçoou o arremesso que se tornou sua marca registrada: o "skyhook", gancho. Seis vezes campeão da NBA - pelo Milwaukee Bucks e pelo LA Lakers -, Kareem carregou o cetro de Russel-Chamberlain até 1989. Na década de 80, no entanto, o perfil da NBA já havia mudado. Os responsáveis: Bird, do Boston, Magic, dos Lakers, e Jordan, do Chicago Bulls. Pela primeira vez na história da liga, o jogo passou a se concentrar no primeiro - longe do garrafão. As assistências de Magic, os arremessos de Bird e as acrobacias de Jordan forma responsáveis por 11 títulos desde 1980. A aposentadoria do trio coincidiu com a explosão da maior - e melhor - geração de pivôs da NBA. Hoje em Mineapolis estarão quatro deles, representando dois estilos de jogo. Pelo Oeste, despontam David Robinson (San Antonio Spurs) e Hakeem Olajuwon (Houston Rockets) - 2º e 3º cestinhas da temporada. Velozes, têm a capacidade de driblar e arremessar de média distância. O nigeriano Hakeem já é o favorito ao prêmio de MVP ("most valuable player", melhor jogador) do ano. Os pivôs do Leste representam a escola mais tradicional .São mais fortes e violentos. Shaquille O'Neal (Orlando Magic) precisou de apenas duas temporadas para se transformar no cestinha e na maior estrela da NBA . O jamaicano Patrick Ewing (NY Knicks) faz mais a linha "durão" - sádico, às vezes.

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