São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Relógio data do século 14

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao substituir a ampulheta, o relógio foi o produto mais complicado da revolução tecnológica da baixa Idade Média. Representou a tradução tecnológica de conhecimentos matemáticos, mecânicos e físicos até então acumulados.
Contrariamente à noção burramente difundida, a "idade das trevas" permitiu, entre outras coisas, que o homem destilasse o álcool, utilizasse a energia dos ventos, construísse barragens nos rios, usasse pela primeira vez a serra hidráulica, fabricasse o espelho de vidro e barateasse, com a fabricação do papel, a transmissão dos conhecimentos.
Assim, a invenção do relógio mecânico, com engrenagens movidas pela energia transmitida por pesos, não foi um fato isolado.
Dois nomes são associados à produção desses sofisticados aparelhos de mensuração do tempo. São eles o abade inglês Ricardo Wallingford (por volta de 1330) e o italiano Giovanni di Dondi, duas décadas depois.
Wallingford projetou e construiu o relógio astrológico da abadia de Santo Albano e redigiu um tratado para explicar seu funcionamento. Di Dondi é o autor de uma máquina com um jogo de engrenagens superpostas, capaz de indicar o dia e a hora, a posição do Sol, da Lua e dos cinco planetas então conhecidos e ainda prever os cinco feriados religiosos fixos (como o Natal) e os feriados móveis (como a Páscoa) que variam dentro de ciclos de 21 anos.
Com programação e dimensões menores, outros relógios já funcionavam no século 11. Dante menciona um deles na "Divina Comédia" e o rei Afonso 10, de Castela, deixou pergaminhos com a reprodução de um instrumento que lhe foi provavelmente presenteado.
O historiador francês Jean Gimpel ("La révolution industrielle du Moyen Âge") cita um relógio ainda anterior, produzido na China antes de 1126 por Su Song. Mas, entre os chineses, decretar calendários e controlar o tempo eram atribuições do imperador, razão pela qual o aparelho virou segredo de Estado e dele não se teve mais notícias com o início da dinastia Ming (1368).
Essa curiosidade é profética. Na Europa, com a segunda metade do século 14, os monarcas passaram a controlar o tempo ao decretarem quantas vezes por dia deveriam bater os relógios dos palácios e das igrejas.

Texto Anterior: Física marca o passo da areia
Próximo Texto: Por que os planetas voltam para trás no céu?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.