São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994
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Dores crônicas devem ter tratamento multidisciplinar

TEREZA CRISTINA GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dor crônica -dor persistente e que interfere na vida social e profissional do indivíduo- foi tratada durante muito tempo como um problema puramente psicológico. Esses casos hoje são tratados através da interação de diferentes profissionais da Saúde.
A dor é uma espécie de dispositivo de segurança para o organismo. Sem a sua existência, seria impossível o diagnóstico precoce de muitas doenças e mesmo realizar defesas simples, como retirar rapidamente a mão quando encostamos em um cigarro aceso. O organismo possui mecanismos para inibir a transmissão da sensação dolorosa quando ela já não é mais necessária. Na dor crônica esses mecanismos não funcionam.
No cérebro, existe um sistema (límbico) que desencadeia sensações emocionais como angústia e medo. Isso permite que a pessoa tome providências para sua defesa na presença de um estímulo.
Com a dor acontece a mesma coisa. Estruturas cerebrais mandam mensagens à medula espinhal e produzem substâncias analgésicas (endorfinas) quando a dor já não tem mais "utilidade".
"A medula funciona como uma central telefônica. Na dor crônica existe um descontrole. Estímulos que nem seriam codificados como dor passam a ser dolorosos e o sistema de inibição é ineficiente", explica Salomon Benabou, diretor do Serviço de Neurocirurgia Funcional do Hospital das Clínicas.
Os circuitos emocionais e de dor são controlados predominantemente pelo neurotransmissor serotonina. Devido a fatores genéticos, cerca de 40% das pessoas têm flutuação no nível de serotonina durante a vida. Quando está baixo ele, inibe a dor e o sistema límbico. Por isso, dor crônica, depressão e ansiedade são frequentemente concomitantes.
Não existe um tempo exato para a dor ser considerada crônica, mas usualmente são as que duram mais de seis meses. O tratamento deve ser sempre feito por uma equipe multidisciplinar. Apesar de frequentemente não se achar uma causa bem definida, pode-se afastar a presença de doenças graves.
Antiinflamatórios e analgésicos são utilizadas. Os antidepressivos aumentam os níveis de serotonina e melhoram muitos casos."É um erro considerar a dor como puramente psicológica apenas porque melhora com antidepressivos, pois eles também agem nos centros de inibição da dor", diz Benabou. A cirurgia só é indicada nos casos (5%) em que não há melhora com o tratamento clínico.

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