São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 1994
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Inventor defende vacina contra malária

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O colombiano Manuel Elkin Patarroyo, autor da descoberta de uma vacina contra a malária, afirmou que ela deve começar a ser fabricada, pois há 2,5 bilhões de pessoas à espera de recebê-la. No domingo, representantes da OMS (Organização Mundial da Saúde), do Programa Especial de Investigação e Formação das Doenças Tropicais, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e do Banco Mundial informaram que a vacina passou com sucesso pelos primeiros testes em pacientes humanos na África.
A OMS emitiu um comunicado com seu aval para massificar a inoculação. Segundo o comunicado, a vacina "desencadeia uma forte resposta imunológica" contra a doença, "sem provocar efeitos indesejáveis". Segundo a organização, há anualmente cerca de 500 milhões de casos de malária no mundo, 5,6 milhões deles na América Latina –2,8 milhões apenas no Brasil. Na Índia há 2,6 milhões. Na África, 480 milhões. Por ano, morrem até 3 milhões de pessoas, incluindo 1 milhão de crianças africanas.
Para Patarroyo, do Instituto Nacional de Imunologia, da Colômbia, é preciso começar a produzir a vacina em grande escala. Ele disse que países como o Brasil e a Indonésia estão interessados em instalar laboratórios para sua produção. O pesquisador revelou que outros países, como o Zaire e a Tanzânia, pediram que sua vacina seja enviada para que possam iniciar sua aplicação.
A vacina de Patarroyo, chamada de SPF 66, foi desenvolvida ao longo dos últimos dez anos. A primeira fase dos testes foi feita com mais de 41 mil voluntários na América Latina, principalmente na Colômbia, mas também no Brasil, na Venezuela e no Equador. Testes recentes com 45 voluntários africanos do distrito de Kilombero (Tanzânia) obtiveram índice de sucesso entre 40% e 66% nos adultos. Em crianças, as respostas positivas à vacina chegaram a 77%.
A OMS informou que os testes foram realizados no país africano em "condições de transmissão intensa", pois os habitantes de Kilombero sofrem em média cem vezes mais picadas do Anopheles (o mosquito transmissor da malária) que os colombianos. Por ano, eles são picados 388 vezes em média pelo mosquito, portador do parasita Plasmodium.
As primeiras conclusões dos pesquisadores recomendam mais testes, que devem ser feitos em Gâmbia e na Tailândia. Há perspectivas de uso em larga escala até 1998. Patarroyo diz que o aval da OMS derruba críticas de cientistas de vários países.
Segundo a OMS, a SPF 66 é apenas um dos componentes da estratégia antimalária. Há pelo menos outras 5 vacinas promissoras prontas para testes em seres humanos e outras 20 em diferentes fases de estudo em laboratórios. A SPF 66 leva pelo menos três anos de vantagem sobre as outras.
Patarroyo doou à OMS, em maio do ano passado, os direitos sobre a vacina. Ao fazer a doação, o colombiano disse que era a "primeira vacina química –e não biológica" e a "primeira preparada em um país em vias de desenvolvimento". Ele espera que seu preço seja inferior a US$ 5 por injeção.

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