São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 1994
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Desfile empolga mais que trio elétrico, diz Gil

LUIZ CARLOS DUARTE; JOÃO BATISTA DE ABREU; AZIZ FILHO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

JOÃO BATISTA DE ABREU
AZIZ FILHO
O cantor e compositor Gilberto Gil disse que a experiência de desfilar na Passarela do Samba é muito mais forte que sair num trio elétrico. "Aqui o público tem caráter devocional. Tudo é mais bem focado e ritualístico. Há uma coisa acumulada de luta das comunidades. Este poder na avenida é arrebatador", afirmou Gil.
A apresentação da Mangueira foi prejudicada pelo excesso de componentes (cerca de 6.000) e pelo erro primário do carnavalesco Ilvamar Magalhães. Pelo segundo ano consecutivo, Magalhães calculou mal a altura das alegorias. Os carros onde estavam Caetano Veloso e Gal Costa se chocaram ao passar pela torre dos cinegrafistas e fotógrafos. No ano passado, o mesmo carnavalesco comprometeu a evolução da escola por ter calculado mal a altura do carro que tinha como destaque principal a apresentadora de TV Angélica, que se chocou com a mesma torre, no final da pista.
Gil disse que se encantou com a visão que teve do público, do alto do carro da Mangueira. "Você precisa ver o rosto das pessoas. Todas voltadas para o ar, como se esperassem um disco voador."
Assediado pelos componentes da escola e preocupado em não prejudicar o desfile na área de dispersão, Gil parecia eletrizado com a exibição da Mangueira. "Quando meu carro quebrou, cheguei a pensar em sair no chão. Eu me arrastaria como se fosse uma cobra. Seria a realização de um sonho". Dois pneus do carro que conduziria Gil pela avenida furaram na concentração e o cantor acabou desfilando em outro, ao lado do passista Serginho do Pandeiro.
O cantor descreveu a experiência de desfilar no Sambódromo, pela primeira vez, como uma emoção incontrolável. "O coração era pura ofegância. Não havia racionalidade que explicasse o que sentia". Para Gil, a Mangueira simboliza toda a nação, conquistando a unanimidade do Sambódromo.
Caetano Veloso também prometeu voltar ao Sambódromo: "Tudo foi muito intenso. Eu brinquei Carnaval. Sou Mangueira desde criancinha". O cantor foi o primeiro a descer do carro alegórico, içado por um guindaste. A seguir veio Gal Costa, que se limitou a dizer: "Foi lindo ver os quatro reunidos". Quando lhe pediram para comparar os carnavais de Rio, Salvador e Recife, Gal esquivou-se. Maria Bethânia demonstrou nervosismo durante o desfile e demorou a ser retirada do alto do carro.
Ao chegar à Apoteose, Bethânia foi a mais aplaudida. "Foi a maior emoção da minha vida", disse. Ela justificou ainda a reverência que fez ao final para as arquibancadas populares. "Fiz isso por dois motivos. Em consideração ao público desse setor, que é mais infeliz e também pela faixa que fizeram em minha homenagem". A faixa dizia "Bethânia, nós te amamos".

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