São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 1994
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Carnaval da Sapucaí salva folia depressiva

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DO MAIS!

Enfim, depois de dias, noites e madrugadas de folia depressiva, o Carnaval do Rio entrou em cena para salvar a festa. É acachapante a superioridade do espetáculo apresentado pelas escolas cariocas.
Quem teve a paciência de acompanhar os desfiles de São Paulo (que não é tão mau assim, mas foi muito atrapalhado pela chuva) e de Manaus (uma coisa estranhíssima, aquele enorme sambódromo amazônico) com certeza notou a diferença quando sintonizou a Sapucaí.
Globo e Manchete dividiram as transmissões, de um modo geral discretas, com apoio de comentaristas que entendem do negócio e medianamente informativas –fracas em detalhes paralelos, como o esquecimento de Itamar durante o desfile da Mangueira, quando esperavam-se acenos de e para Gal Costa.
A novidade ficou por conta da Globo que acionou um esquema de pesquisa instantânea, por telefone, permitindo uma indicação, ainda que não científica, das preferências dos telespectadores. No domingo, a enquete deu Mangueira na cabeça –com a média 9,4.
Foi um desfile orgiástico, que contou com a adesão eufórica das arquibancadas, já seduzidas pelo enredo da escola muito antes do domingo –o Rio, de cara, adotou o samba da Mangueira e o refrão "atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu" espalhou-se pelo Brasil afora. E, é claro, o four de ases homenageado pela Estação Primeira é para estourar qualquer banca.
A TV mostrou os quatro baianos (destaque para Gal, linda, mais do que em forma, e para Caetano, de uma felicidade luminosa) e flagrou a entrada tardia de Gilberto Gil, cujo carro teve problemas, obrigando-o a mudar de lugar no desfile –veio na rabeira, acompanhado por Serginho do Pandeiro, o Michael Jackson do samba, que repete todo ano um megashow de passos e malabarismos em cima de um tambor.
Mas se o desfile da Mangueira foi um êxtase, não há como negar que a Viradouro esteve, plasticamente, superior. É claro que o estilo da verde e rosa é outro, mas é claro também que Joãosinho Trinta é craque. Seu Carnaval tem um relevo único –que é obtido com truques simples, como o uso de alegorias de mão, que quebram a monotonia plana do desfile e geram um efeito majestoso na avenida. Desculpem-me os puristas, mas seria um sonho ver Joãosinho na Mangueira.
E para acabar, uma imagem (da Manchete) que ficou: aquele mulato grisalho desesperado, aos prantos, com a quebra dos carros da Império Serrano –que fez um belo desfile. Que força, meu Deus.

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