São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 1994
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A indústria "redescobre" a baixa renda

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Os anos 90 devem marcar o retorno às prateleiras de modelos populares. É uma reviravolta em relação à década anterior, quando a indústria de bens duráveis, para driblar a queda de poder aquisitivo da classe média e garantir a manutenção de suas margens de lucro, optou por elitizar os produtos, elevar os preços e reduzir a produção.
Trata-se de uma estratégia de sobrevivência, que embute uma miopia de marketing, como apontou um estudo apropriadamente intitulado "A Redescoberta do Real Mercado Brasileiro".
Conduzida no início da década pelas consultorias Gouvêa de Souza e InterScience, essa pesquisa soou como sinal de alerta à indústria de que não seria possível continuar ignorando o exército de consumidores de baixa renda (de 1 a 10 salários mínimos), em razão de que seu poder de consumo se equipara ao da classe média (de 10 a 40 salários mínimos).
É claro que esse indicador não se refere à renda familiar unitária, mas ao total de renda disponível pelo conjunto das famílias de baixa renda, em número cinco vezes superior ao da classe média. Calculou-se que o volume de dinheiro na base da pirâmide somava US$ 76,1 bilhões –ou 41,7% do total de consumo no país.
Como a propensão para consumir determinados bens difere de uma classe para outra, foi estabelecida uma comparação entre os dois grupos. Verificou-se, por exemplo, que o volume de renda disponível na classe média para a aquisição de eletrodomésticos era 13% inferior ao da baixa.
O sucesso de vendas das lavadoras populares é emblemático de outra tendência detectada: a de que a relação qualidade e preço dos produtos, que se refere à escolha dos modelos, é decidida de forma distinta pelos dois grupos.
Sem renda para gastar com itens sofisticados (videocassete, forno microondas e aspirador de pó), os consumidores de baixa renda priorizavam a compra de aparelhos de TV, refrigeradores, fogão, secadora e lavadora.
O volume de dinheiro reservado para esse último item equivalia a US$ 142,5 milhões. A pesquisa de quatro anos atrás constatou que o desejo de compra era elevado e seria satisfeito através de modelos econômicos.
Isso não significa que a totalidade dos novos proprietários de lavadoras populares pertença ao extrato de baixa renda, embora a cooptação desse contingente deve ter contribuído para a explosão de vendas.
O bom desempenho também deve estar ancorado no fenômeno de infidelidade às marcas tradicionais que, segundo outros levantamentos, grassa na classe média e até alta.
Uma pesquisa conduzida pela InterScience comprovou que o preço, mais que qualquer outra fator, tornou-se a influência decisiva para a compra de quatro em cinco categorias de produtos, entre os quais forno microondas e videocassete.

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