São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 1994
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Embalo nas Bolsas

As Bolsas de Valores abriram o ano de 94 com força total. Somente em janeiro, o índice Bovespa, que acompanha a evolução da Bolsa paulista, subiu 97%. E as ações já se valorizaram 40% só nos 11 primeiros dias de fevereiro.
Como se vê pelo gráfico, o índice Bovespa em dólar está próximo do pico atingido em 86, com a euforia do Plano Cruzado. O gráfico foi feito descontando-se a inflação norte-americana, não desprezível nos últimos dez anos. Fica claro que, após o primeiro ano da gestão Collor, no qual as Bolsas despencaram, a tendência foi de valorização (com exceção do período que culminou no impeachment).
A explicação para esse fato pode estar na confiança de que mal ou bem avançam as reformas modernizantes, aliada à expectativa da revisão constitucional e à negociação da dívida externa em curso. Esses fatores trouxeram a sensação de que o Brasil poderá estabilizar a economia em um prazo não muito longo. O mercado procura se adiantar a esse fato, comprando agora ações cujos preços tenderão a subir no caso de sucesso do governo no combate à inflação.
Por outro lado, não há como ignorar que parte significativa do dinheiro que está indo para as Bolsas é o chamado "hot money", recursos altamente especulativos que migram de país a país em busca de lucros rápidos. Nesse sentido, cabe ressaltar que parte do dinheiro que entrou no Brasil em 94 saiu das Bolsas asiáticas, que caíram.
O investidor de segunda linha, que compra ações por acreditar no sucesso econômico em um prazo mais longo e por isso mesmo não planeja sair logo, infelizmente ainda não tem confiança suficiente para trazer grandes volumes de recursos. Esses investidores, de qualquer forma, já começam a ganhar cada vez mais importância no mercado de ações. De outro lado, o governo tem mostrado preocupação com a entrada excessiva de recursos externos e não se pode descartar que, nos próximos meses, haja novas tentativas de estabilizar esse afluxo.
Para os próximos meses, o desempenho do índice Bovespa dependerá do desenrolar dos acordos externos (FMI e bancos externos) e do plano econômico. Se fracassar a negociação com o FMI, o acerto com os bancos (Plano Brady) se complica. Afinal, o governo norte-americano vem exigindo o acordo com o fundo para a emissão dos títulos que o Brasil deverá comprar para o Plano Brady. Boa parte dos investidores estrangeiros fugiria das Bolsas brasileiras nesse caso.
Por outro lado, se os agentes acreditarem que nos próximos meses o plano econômico não dará certo, o resultado pode ser o mesmo. Como o "hot money" ainda é o que sustenta a elevação do índice Bovespa, a saída desse tipo de aplicador enfraquecerá as Bolsas.
Se, alternativamente, o país fechar os acordos externos e o Plano FHC conseguir sucesso no combate à inflação, as Bolsas devem continuar subindo e os investidores de segunda linha terão importância crescente, dando maior solidez ao mercado acionário brasileiro.

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