São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 1994
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Estudo vê expansão do neonazismo

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Relatório de 92 páginas, elaborado pela Universidade de Tel-Aviv, em Israel, aponta o Brasil como um dos principais focos de crescimento do neonazismo no mundo em 93. "No Brasil, o surgimento dos skinheads neonazistas botou um fim no mito da tolerância racial", diz o documento.
O relatório vai para todas as universidades do planeta. É uma das peças que ajudam a compor a "imagem" do Brasil no exterior. Quando avalia os motivos das efervescências racistas, o estudo é categórico: "A falta de esperança, desemprego e crise econômica" levariam os jovens "em busca daqueles que seriam culpados pela situação"- que são, para os neonazistas brasileiros, negros e judeus.
Os focos de neonazistas são encontrados, sustenta o relatório, nos centros de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Em São Paulo, constata-se a proliferação dos skinheads "white power" e a divulgação em massa de um livro de S.E. Castan ("Judeu ou Alemão: Nos Bastidores da Mentira do Século"). O livro, editado no Rio Grande do Sul, tenta provar que o holocausto foi uma farsa.
No Nordeste, informa o estudo, surgiram no ano passado partidos neonazistas em Recife (PE), sobretudo uma agremiação conhecida apenas pelas siglas "S.P.F". Também houve a consolidação de novas agremiações nazistas ao norte de Belém do Pará, bem às margens do rio Amazonas, segundo o documento, onde é pregado "o Brasil para os brasileiros". O pesquisador David Kochavi, de Tel Aviv, escreveu que os neonazistas do norte brasileiro "andam em grupos de três ou quatro, cobertos de tatuagens, e não é fácil entender sua ideologia: entre eles há negros e nordestinos, abominados pelos skinheads do sul do Brasil".
Alguns pequenos "focos" são elencados como irradiadores de ideário racista em regiões brasileiras tidas como acima de qualquer suspeita. Por exemplo: a cidade de Aparecida do Norte (a 380 km de São Paulo), considerada o maior centro católico do Brasil, surge como centro neonazista -segundo o relatório, por obra de seu ex-prefeito, Claudio Galvão de Castro (PDT). Informa a Universidade de Tel Aviv que "um dos líderes do Partido Brasileiro Nacional Socialista, Galvão de Castro, chegou a prefeito da cidade" e isso se deveria "às vantagens que os grupos antidemocráticos tiraram desde a renovação da democracia".
Outro foco de concentração dos neonazistas seria uma colônia alemã chamada Honehau, no Paraguai, que estaria "exportando" seu ideário para as fronteiras com o Brasil e a Argentina. Aliás, é de uma cidade Argentina, Tucuman, que teriam vindo para o sul do Brasil, em 1993, publicações neonazistas. Dentre as 34 apontadas, o relatório israelense cita como principal o jornal "El Nacionalista".

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