São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 1994
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Arma achada na Detenção era do Exército

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O processo do massacre de 111 presos na Casa de Detenção tem mais um indício de que a tropa de choque da PM matou detentos desarmados. Uma das 13 armas que a PM disse ter apreendido com os presos pertence ao Exército. A descoberta foi feita pelo MP (Ministério Público), que investiga a origem dessas armas. Ninguém sabe dizer como o revólver calibre 32 foi parar no pavilhão 9.
O fabricante da arma, a Taurus, informou que vendeu o revólver nº 287.417 para o Estabelecimento Regional de Finanças da 2ª Região Militar do Exército, em São Paulo, através da nota fiscal nº 26.748. A Divisão de Produtos Controlados da Polícia Civil não tem registro de que essa arma tenha sido perdida, furtada ou roubada. Hipóteses que justificariam o aparecimento dela no pavilhão 9.
Em um primeiro ofício mandado ao Tribunal de Justiça Militar, o general de divisão Mário Sérgio Rodrigues de Matos, então chefe da 2ª Região Militar, disse que não havia registro dessa arma nos arquivos do Exército. Há 15 dias, a informação sobre a venda para o Exército foi ratificada pela Taurus.
Na semana passada, o coronel Miguel Carlos Tatton Ferreira de Oliveira, 52, do Comando Militar do Sudeste, disse que essa arma pode ter sido comprada por um oficial do Exército. "É comum grupos de oficiais de uma mesma unidade se unirem para fazer uma compra coletiva de armas. Essas unidades mandam ofício para o fabricante, que pode registrar as armas em nome do Exército."
Segundo o coronel, as armas são pagas pelos oficiais, que não tem a obrigação legal de registrá-las na Polícia Civil. Para o militar, um oficial do Estabelecimento de Finanças pode ter vendido seu revólver para alguém que foi assaltado. O coronel não soube informar qual oficial teria comprado a arma que apareceu no pavilhão 9.
Segundo a PM, após sua tropa invadir o pavilhão 9, os presos atiraram e, no confronto, 111 detentos morreram. A PM teria achado, ao revistar as celas, oito revólveres calibre 32, dois calibre 38, um calibre 22, uma pistola calibre 7,65 mm uma pistola calibre 6,35 mm.
Segundo o laudo do perito Mário Prandini Junior, do Instituto de Criminalística, todas as armas tinham condições de uso e sinais de que haviam sido usadas recentemente. O objetivo da investigação do MP é descobrir se essas armas poderiam estar com os presos quando houve o massacre.

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